Quando anunciaram a contratação de Jorge Wagner no final de 2010, os dirigentes do Kashiwa Reysol talvez nem pudessem imaginar. Mas, até mais do que assinar com um jogador polivalente e com grande experiência, eles haviam acabado de trazer para o clube uma espécie de amuleto da sorte dos mais eficazes, capaz de alçar quase todas as equipes por onde passa a títulos de primeira linha.
   “É verdade, sempre fui campeão por onde estive”, confirma o meia em entrevista ao FIFA.com. “Mas acho que foi um pouco de sorte também, não?”, brinca. Com ajuda do acaso ou não, o brasileiro de 32 anos ostenta um currículo invejável, com ao menos 12 títulos por seis equipes diferentes – entre eles uma Libertadores com o Inter (2006) e três nacionais com São Paulo (2007 e 2008) e Lokomotiv Moscou (2004) –, podendo agora provar mais do que nunca a fama de pé quente.
    Afinal, o modesto Kashiwa Reysol de Jorge Wagner vem conseguindo algo improvável: deixar a segunda divisão em 2010 para brigar diretamente pelo título da J-League neste ano. Restando três rodadas para o fim da temporada, a equipe aparece na liderança com dois pontos a mais que o tradicional Gamba Osaka. “Claro que a gente sonhava, mas sabia que ia ser difícil por causa da concorrência. É complicado sair da segunda divisão e já disputar o título”, explica. “Somos uma equipe em formação e sabemos dos nossos limites. Mas fomos acreditando aos poucos e conquistando o respeito dos rivais. Esse foi o segredo.”
   Sem qualquer tipo de magia, o Kashiwa surpreende sim pelo trabalho sério e bem feito desde a campanha do título da segunda divisão, agora liderado por um jogador que se acostumou a “acertar” as equipes pelas quais atuou. E isso sem nunca ser a estrela. “Nunca fiz questão disso, pelo contrário. Penso no grupo, no trabalho geral e por isso talvez tenha vencido tanto."
Assistências e gols
    Jorge Wagner fez isso tudo sem ser estrela, mas ajudando os companheiros a marcar os gols com suas cobranças de escanteios e cruzamentos cheios de veneno. Esta foi sempre sua principal característica nos diversos clubes em que atuou. No Kashiwa, a eficiência e o altruísmo também vêm sendo fundamentais, mas é até de uma forma mais direta que ele tem se destacado. “Aqui, estou vivendo uma fase de artilheiro.    É um outro tipo de alegria marcar gols”, aponta o meia, que, após os quatro das últimas rodadas chegou a dez gols na temporada, ficando, no clube, somente atrás de Junya Tanaka, com 12, e do brasileiro Leandro Domingues, com 13.
   “Mas continuo dando assistências e fico feliz também. No penúltimo jogo (contra o Sanfrecce Hiroshima) foram duas. O que importa é ver a equipe se dando bem no fim”, indica ele, que chegou como lateral esquerdo antes de decolar mesmo no meio de campo, em mudança imposta pelo treinador Nelsinho Baptista. “O Nelsinho me deu liberdade para atacar, e isso deu certo. Ele sempre valorizou os jogadores e implantou uma mentalidade vencedora. Disse que a gente podia ser campeão e que devia acreditar, o que influenciou bastante no geral”, garante. “O time teve uma boa ascensão depois de cair, e isso é porque acreditaram no projeto e no trabalho da comissão técnica.”
Sonho duplo
    Com o campeonato chegando ao fim, não é apenas a esperança de colocar mais um troféu no currículo que mexe com Jorge Wagner. Neste último mês, a disputa será dupla e também envolverá uma vaga na Copa do Mundo de Clubes da FIFA Japão 2011, já que o campeão do país anfitrião entrará na disputa ao lado de Barcelona, Santos e outros campeões continentais.
   Uma possibilidade que faz até o calmo baiano de Feira de Santana se exaltar e nem mesmo reclamar da possibilidade de perder o verão brasileiro para ficar uns dias a mais no inverno japonês. “Nosso principal objetivo é mesmo o título. Só penso nesses quatro jogos. As férias no Brasil ficam para depois”, brinca. “Temos uma possibilidade muito grande de estar no Mundial da FIFA em dezembro. É algo que faz parte dos meus planos e dos da equipe.”
   Se a sorte de Jorge Wagner estiver em dia, já vai ter torcedor do Kashiwa garantindo com antecipação as passagens para Yokohama... e ainda com a esperança de encarar uns jogos sob um sol de 30ºC.