Nascido para ser capitão
   O zagueiro Edu Dracena não é, certamente, o jogador mais habilidoso do elenco do Santos. Aos 30 anos, não é, também, o mais velho do grupo. Muito menos o que está no clube há mais tempo: acertou contrato em setembro de 2009 e está, na prática, apenas em sua segunda temporada completa na Vila Belmiro.

    E, no entanto, por alguma razão que ele próprio não consegue terminar de explicar, é Edu quem veste a faixa de capitão da equipe, praticamente desde que chegou. O zagueiro fica até sem graça diante da menção. Porque ali, fora do campo, numa situação como sua conversa com o FIFA.com, Edu não é o estereótipo que normalmente se traça de um líder de grupo: é tímido, tranquilo e sincero, sem frases feitas.

    “Pois é, não sei...”, finalmente ele começa a tentar responder, depois de alguns segundos de meio-sorriso e cara de dúvida. Edu Dracena não é de falar muito, mas alguma coisa na maneira como fala transmite uma confiança que todos os seus treinadores até hoje não custaram em perceber. “Eu sempre fui capitão por onde passei aqui no Brasil: no Guarani, no Cruzeiro, nas categorias de base da Seleção... Quando cheguei, o Dorival Junior (então técnico do Santos) me colocou nessa condição e fiquei até hoje, com exceção do período em que o Robinho veio por empréstimo, no ano passado.”

Faixa, não. Taça
    “Se bem que a braçadeira, no fim, é só um símbolo. O que acho legal é o respeito que tenho diante dos companheiros, o fato de que me escutam. Eu não sou de ficar falando muito fora do campo, mas antes dos jogos sou sempre um dos que fala: eu, o Elano e o Léo – que têm mais tempo de clube. Falo aquelas coisas que, no fundo, todo mundo já sabe: para ter atenção, para entrar ligado. Mas acho que consigo ajudar a despertar a motivação do pessoal.”

    Certo, a faixa não é mais do que um símbolo; disso ninguém duvida. Mas existe um aspecto do fato de ser nominalmente o capitão da equipe, e não só um líder, que mexe com Edu Dracena. Uma cena que, quando descrita, o deixa quieto por alguns segundos. “É... Depois de conquistar a Libertadores, essa imagem não sai da minha cabeça”, admite ele. A imagem, no caso, é a dele, o capitão do Santos, levantando o troféu da Copa do Mundo de Clubes da FIFA no próximo mês de dezembro, no Japão.

O Santos acreditou em mim: aceitou me contratar apesar de eu estar machucado, esperou minha recuperação. E hoje, menos de dois anos depois de ter chegado aqui, já conquistamos quatro títulos
 
Edu Dracena, capitão santista


    “Antes da final da Libertadores era a mesma coisa: vivia pensando naquela cena de levantar a taça”, conta Edu. “Claro que o mais importante de tudo é ser campeão, para todos nós. Mas o fato de ser a pessoa que levanta o troféu dá um orgulho especial, porque, independente do que aconteceu antes e daquilo que possa acontecer depois, você sempre vai estar gravado na história do clube; vai deixar uma marca. Quero poder mostrar a foto oficial do título de campeão do mundo para os meus filhos e meus netos. Seria até um prêmio por aquilo tudo por que passei.”

Presente de turco
   
Esse “aquilo tudo” por que Edu Dracena conta ter passado é, sobretudo, a história que antecedeu sua chegada ao Santos. Depois de uma temporada no Olympiakos, da Grécia, e de se destacar na equipe do Cruzeiro que brilhou com a tríplice coroa em 2003, o zagueiro permaneceu em Minas Gerais até 2006. Saiu de novo do Brasil, agora para a Turquia, onde se adaptou a Istambul e ao Fenerbahçe, que ajudou a chegar pela primeira vez às quartas de final da Liga dos Campeões da Europa.

    Tudo ia bem até que, durante uma partida do Campeonato Turco contra o Eskisehirspor, em abril de 2009, Edu rompeu o ligamento cruzado anterior do joelho direito, pela segunda vez na carreira. “Tive a lesão e rescindiram meu contrato, senão não teria voltado ao Brasil. Foi duro. Foi algo que me deixou realmente chateado”, conta ele, aparentando mágoa por alguns instantes, até chegar ao ponto de inflexão da história. “Só que acho que nada acontece por acaso. Na hora podemos não perceber, mas as coisas se acertam. O Santos acreditou em mim: aceitou me contratar apesar de eu estar machucado, esperou minha recuperação. Hoje, menos de dois anos depois de ter chegado aqui, já conquistamos quatro títulos (a Copa do Brasil de 2010, a Libertadores de 2011 e o bicampeonato paulista)  e estou prestes a disputar o Mundial de Clubes como capitão da equipe. Acho dá para dizer que tudo deu certo e que estou retribuindo a confiança.”