Durante os quatro anos em que Dunga comandou a Seleção Brasileira, discretamente, Elano conquistou um stauts sólido de homem de confiança do treinador: desde os dois gols que marcou na primeira vitória do Brasil pós-Copa do Mundo da FIFA de 2006, um 3 a 0 sobre a Argentina, até a convocação para a África do Sul 2010 – quando sua ausência foi profundamente sentida depois de se lesionar na segunda partida diante da Costa do Marfim. A imagem que ficou, então, foi essa: Elano é jogador de Seleção. Desses que aparecem até mais quando defendem a camisa do país do que em seu clube.

    Quando o meia acertou seu retorno ao Santos, então, no final de 2010, o cenário estava posto para sua carreira com a camisa amarela poder funcionar ainda mais. Afinal, ele já não jogava na Ucrânia ou na Turquia, nem num Manchester City onde viveu fase irregular, mas dentro do Brasil, num time vencedor. Tudo perfeito. Ou, pelo menos, foi assim até um ponto de virada, no meio do ano.

    “Este 2011 tem sido problemático para mim. Um ano instável”, admite o paulista de 30 anos em conversa com o FIFA.com. “Fui artilheiro do Cameonato Paulista, depois ajudei na campanha de mais um título, da Libertadores. Quando isso passou, começaram as dificuldades.”

    Por “dificuldades”, Elano se refere sobretudo a duas coisas: a série de lesões que o acometeu e a traumática eliminação da Seleção Brasileira nas quartas de final da Copa América, diante do Paraguai. Depois de um empate em 0 a 0 em 120 minutos, os brasileiros perderam suas quatro cobranças na disputa por pênaltis e acabaram eliminados de uma forma que repercutiu estrondosamente mal no país acostumado a comemorar gols – e não a sofrer tanto para conseguir marcá-los. A primeira dessas cobranças foi de Elano, para fora.

    Aquele erro foi como a ignição para uma espiral de problemas. Reservado por natureza, o santista passou a aparecer nas notícias por conta de sua vida pessoal. Enfrentou lesões que o deixam fora de campo até agora e, nesse processo, não voltou a ser convocado por Mano Menezes – algo que o jogador tem planos de mudar em 2012.

    “No ano que vem, meu objetivo certamente é voltar à Seleção. Tenho que voltar a fazer meu melhor pelo Santos, porque, com isso, sei que tenho condições de jogar pelo Brasil. Em todos os momentos difíceis eu estive presente e ajudei”, argumenta o jogador, hoje em recuperação de uma lesão muscular na coxa direita. “Fui um cara que teve sucesso na Seleção, e não é por um erro que eu mereço ficar de fora. Ainda mais um que não é meu, mas generalizado. Não é por um erro que minha história na Seleção acabou.”

Males que vêm para bem
    Esse período do meio de 2011 degringolou a vida de Elano, sim. Mas serviu, segundo ele, para repensar um bocado de coisas. Tanto que, ao refletir sobre tudo o que aconteceu, o meio-campista demonstra uma serenidade que não parece nem um pouco a de alguém em crise.

    “Estou tranquilo. Tenho refletido sobre muitas coisas que aconteceram na minha vida: a vida profissional, a pessoal, os amigos, a família... E tudo isso serve para tirar uma lição”, conta ele. “Vim da Europa no final do ano, sem férias, e logo de cara tive uma sequência longa de jogos; de jogos decisivos. As lesões eram uma possibilidade. Tanto que não fui o único do elenco a sofrer com isso: foi um semestre desgastante.”

    Colocadas as coisas em seu devido lugar, então, só o que passa a interessar é estar em forma para ajudar o Santos na Copa do Mundo de Clubes da FIFA, no Japão. Lá, num torneio internacional de alto nível desses a que Elano já está acostumado, sua experiência tende a ser mais importante do que nunca para a equipe santista, cheia de jogadores jovens. “Foram seis anos e meio de futebol europeu e, no meio disso, muitas dificuldades. E, além do mais, tem aquilo que aprendi na Seleção”, diz o meia. “No final das contas, ter superado períodos difíceis me deixa mais pronto para conversar com a molecada. Às vezes é assim que a gente aprende.”