O espião colombiano
  A cena registrada no vestiário colombiano minutos depois da vitória sobre a Costa Rica poderia surpreender alguém desavisado. Todos os jogadores cantavam e dançavam ao ritmo da salsa. Todos menos um, Michael Ortega, que estava conversando seriamente com Eduardo Lara. Problemas entre o meia e o treinador? De jeito nenhum. O talentoso jogador colombiano, atualmente no Atlas do México, aproveitava o primeiro instante que tinha para conversar com o técnico sobre tudo o que sabia da seleção mexicana, adversária das quartas de final.
  "Conversei com o professor logo que soube da classificação dos mexicanos porque os conheço de cor", revela Michael ao FIFA.com. "Tenho companheiros do Atlas que jogam na seleção, e outros deles enfrentei no Campeonato Mexicano. Os mexicanos correm, se entregam e lutam. Nunca dão nada por perdido e são bem verticais, o que significa que precisaremos de mais determinação e mais futebol para derrotá-los. A partida vai ser difícil, mas teremos a torcida do nosso lado."
  Ortega sabe o que diz. Depois de estrear no Deportivo Cali com 16 anos de idade, ele vem atuando no Atlas desde o ano passado e conta com vários compadres no plantel mexicano. "O meu melhor amigo é o César Ibáñez, mas ainda não quis falar com ele desde que cheguei aqui. Não quero dar vantagens. É claro que vamos conversar em campo, mas conheço a nossa equipe e posso apostar o que quiser."
A arte do passe
   Ortega é uma figura e tanto dentro do elenco colombiano. Divertido e inquieto, comanda quase todas as piadas no vestiário e também se gaba de ser o DJ da seleção. "Sempre que posso ponho salsa, principalmente para tirar o metaleiro Pedro (Franco) do meio", brinca.
  Porém, quando entra em campo, ele se transforma no que todos veem das arquibancadas: um especialista em passes com a precisão de um cirurgião. "Gosto tanto de dar um passe quanto de fazer um gol", esclarece. "Apesar de que quem fica famoso é quem converte, e não quem toca a bola. Tomara que este trabalho seja ressaltado, porque alguns não o destacam, o que às vezes incomoda."
  No Mundial Sub-20, Ortega já deu quatro passes que terminaram em gol, um deles para José Valencia e três para Luis Muriel, entre eles um toque de calcanhar na estreia contra a França. "Quero ajudá-lo a ser o goleador do torneio, e ele já me deve várias", afirma, em tom de brincadeira. "Atuamos como uma equipe, uma família, e se ganhamos ficamos todos felizes. Por isso continuarei deixando todo mundo na cara do gol se puder."
Raciocínio rápido
   Ortega jogava de atacante quando criança, mas mudou quando um treinador pediu que se posicionasse alguns metros atrás. "Queria priorizar a minha leitura de jogo, além do que eu já tinha perdido a velocidade. Felizmente ainda a mantenho, o que é o mais importante."
  Na hora de falar de referências, o jovem destaca Juan Román Riquelme e o inesquecível Carlos Valderrama. "O Riquelme está acima de todos, graças a ele ainda existe o número 10", explica. "Já o Pibe (Valderrama) é outra coisa, outro nível. Para nós é como falar de Deus, porque sempre será o 10 da Colômbia."
  É claro que, para se parecer mais com os ídolos, Ortega quer balançar as redes pela primeira vez no torneio. Mesmo que seja contra o México, país ao qual precisará retornar depois do final da Copa do Mundo Sub-20 da FIFA. "Se fizer gol contra eles, vão querer me matar", exclama em meio a gargalhadas. "Mas eles sabem que aqui está em jogo a honra e a felicidade do povo colombiano. Estamos em uma Copa do Mundo, e eles me perdoarão. Aqui se joga com o coração."
  Com o coração, e também com a cabeça, em uma combinação que vem dando resultados rumo ao grande objetivo. "Quero ser campeão do mundo e fazer história com esta camiseta", conclui Ortega.