Para alcançar seus objetivos ou mesmo descobrir novas metas, o atacante Eduardo Gonçalves de Oliveira teve de se desdobrar, assumir riscos e insistir bastante. Foi o que o FIFA.com descobriu durante a entrevista com o jogador do Schalke 04.

Quando questionado, então, sobre as possibilidades de uma virada do clube alemão para cima do Manchester United, fora de casa, depois de um revés por 2 a 0 em Gelsenkirchen, para alcançar a final da Liga dos Campeões da UEFA, não causou estranhamento sua resposta sucinta e confiante: “Hoje o futebol é muito competitivo, e tudo é possível", assegura o brasileiro. "Estar na semifinal, entre os grandes da Europa, já é um passo muito importante para o clube, mas podemos ir além. O principal é a gente conseguir jogar. Na semana passada, demos muito espaço. Temos de sair mais rápido com a bola no chão e fazer o nosso jogo, em vez de só correr atrás.”
Em um primeiro momento, a história de "tudo é possível" pode soar como um clichê ou uma frase obrigatória, tendo ainda 90 minutos pela frente. Mas, no caso desse paulistano de 29 anos, que saiu das categorias de base como um zagueiro, construiu sua carreira profissional praticamente toda no futebol alemão, virou ídolo na Coreia do Sul e enfim chegou aos grandes palcos, a perseverança se justifica. “A gente conseguiu surpreender a Internazionale lá. Tudo pode acontecer, mesmo”, repete Edu logo depois da resposta inicial. Para quem já lutou por tanta coisa, não é agora que ele vai desistir.
Vai para a área
Pelo porte físico avantajado e seu 1,85 m de altura, era natural que o garoto, que tomou gosto pelo futebol jogando na rua, fosse escalado por seus primeiros técnicos próximo à grande área. O problema era escolher em qual das duas: a da defesa ou a do ataque. “Nas categorias de base, antes de ir para o Guarani, sempre joguei como atacante”, relembra o canhoto. “Lá em Campinas, com cerca de 16 anos, me colocaram como quarto zagueiro.”
Jogando como defensor, às vezes na ala-esquerda, Edu teve desempenho discreto em Campinas. Após breves passagens por São Paulo e Santos, se profissionalizou no Náutico e defendeu o pequeno CRAC, de Goiás, até se mandar em 2003 para a Alemanha. Só foi ganhar manchetes no Brasil anos depois e já de volta às origens de goleador: mais precisamente, no último dia 26 de abril, quando anotou dois gols na demolidora vitória por 5 a 2 do Schalke sobre a Internazionale de Júlio César, Maicon e Lúcio. “Estou muito contente. Deu tudo certo naquele jogo, e com certeza deu uma visibilidade maior para mim em casa."
Mas como ele chegou até ali?
Mesmo dentro do futebol alemão o caminho de Edu não foi dos mais simples. Aos 21, recebeu  convite para dois dias de teste pelo Bochum, como zagueiro. “Mas não teve jogo-treino. Ficamos treinando sem parar cruzamentos e finalizações. Eu não falava nada de alemão e não entendia nada do que diziam, mas deu certo. Gostaram do que mostrei e fizeram o contrato."
Há diversos casos de laterais brasileiros que, de tão ofensivos, na Europa acabam virando meio-campistas. Edu, porém, fez uma transição mais agressiva: na temporada 2004-2005, passou a jogar adiantado. “Desde então, não houve um jogo, nem uma situação especial, que me fizesse voltar para  a zaga”, diz, o atleta, que ainda passou pelo Mainz antes de migrar para a Ásia em 2007, para defender o Suwon Samsung Bluewings.
“A minha posição”
Embalado por uma passagem de sucesso na Coreia do Sul - onde ganhou uma liga e uma copa e diz ter aprendido a se adaptar a um jogo mais rápido -, Edu foi surpreendido novamente em relação ao seu posicionamento na chegada ao Schalke em 2010. “Quando fui contratado, falaram que eu faria dupla com o (Kevin) Kuranyi. Mas o treinador (Felix Magath) optou por uma formação de três atacantes, e eu sempre era usado aberto, pela esquerda ou direita”, diz. “Foi passando o tempo, e não tive a oportunidade onde gosto de jogar.”
Magath acabou deixando o clube em março, dando lugar a Ralf Rangnick, com quem Edu não se intimidou em abrir o jogo. “Disse que queria muito uma chance na minha posição, e ele concordou.” Sorte dos dois, Edu e Rangnick, pois apenas o segundo jogo do brasileiro em seu hábitat natural já foi justamente o emblemático duelo com a Inter em Milão: dois gols dele e uma goleada histórica no campeão europeu. E então ficou fácil entender por que Edu insisitu tanto em jogar dentro da área. E na do adversário, que fique claro.