O brilho discreto de Arouca

   Com o desabrochar do Santos tão vitorioso dos últimos dois anos, virou habitual descrever – e com razão – a equipe como uma formada por “jogadores de Seleção”. Começando, claro, por Neymar e Paulo Henrique Ganso, duas das maiores esperanças do País pensando na Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014. Aí é fácil lembrar de Elano, que foi titular na África do Sul 2010, ou de Danilo, campeão mundial sub-20 este ano e já incorporado à equipe principal de Mano Menezes. Tem ainda o Borges, artilheiro do Brasileirão 2011 e recém-estreado com a camisa amarela, e até o Léo, que já andou cavando uma vaga na lateral-esquerda.

    E, no entanto, estranhamente, aquela que é reconhecidamente uma das peças mais importantes de tudo o que os santistas conquistaram nesses tempos ainda não está nessa lista de selecionáveis. Estranhamente não apenas por causa da tal importância que Arouca tem, mas pelo retrospecto de sua carreira e pelo futebol multifuncional que o tornou a principal válvula de escape do meio-campo do time. Analisando isso tudo, fica até difícil acreditar que o volante ainda precise usar a palavra “sonho” quando fala em Seleção principal.

    “Olha, eu me preocupo em fazer o meu trabalho: treinar e jogar bem pelo Santos. Mas sempre deixando bem claro que meu sonho é chegar à Seleção, por causa do momento que venho passando não só nesse ano, mas também no passado: conquistando títulos e atuando bem”, descreve ao FIFA.com o jogador de 25 anos, que, com a camisa amarela, fez carreira nas categorias de base: foi campeão mundial sub-17 em 2003, na Finlândia, e disputou a Copa do Mundo Sub-20 da FIFA Holanda 2005. Falta dar só o último salto. “O sonho continua e vou buscá-lo”, promete ele.

Primeiro, segundo, tanto faz
   
Marcos Arouca da Silva foi formado nas categorias de base do Fluminense, como meia ofensivo. Aos poucos, sua combinação de habilidade com um invejável vigor físico o levaram a recuar alguns metros dentro do campo para se tornar volante. Não um volante qualquer, mas um com capacidade tanto para correr atrás dos atacantes rivais feito cão de guarda quanto para, com a bola em seus pés, participar das jogadas de ataque sem o menor desconforto. Foi assim que, já em 2005, com 18 para 19 anos, foi eleito um dos melhores do Brasileirão em sua posição.

    Desde então, pouca coisa variou: Arouca sempre foi um jogador desses que se consentiu chamarem “modernos” – capazes de defender e atacar - e fundamental para equipes que ganharam títulos. Só que, por alguma razão, parece que chama menos atenção do que deveria. Ele próprio, quando perguntado a respeito, se mostra tímido, como se soubesse desse potencial, e se limita a concordar que é, sim, um meio-campista cheio de possibilidades.
   “Foi algo que sempre coloquei na minha cabeça, independentemente do clube em que estivesse: fazer mais de uma coisa em campo. Esse aspecto é positivo para mim, de os técnicos saberem que posso atuar em diversas posições no meio-campo, tanto marcando como também arrancando para o ataque”, admite ele. “A posição em que atuei na maioria das vezes foi como segundo volante, mas não é uma exigência. Posso jogar como primeiro ou segundo volante, dependendo do adversário e de que companheiro tenho ao lado.”

Vários meios de campo
   
Hoje, no Santos de Muricy Ramalho que se prepara para disputar a Copa do Mundo de Clubes da FIFA Japão 2011, o que não faltam, de fato, são companheiros para Arouca. O meio-campo, que já era forte, ganhou mais duas opções depois da conquista da Copa Libertadores: Henrique, vindo do Cruzeiro, e Ibson, do Spartak Moscou. De acordo com as necessidades, o treinador pode decidir entre inúmeras formações: da mais conservadora à mais ousada – essa, que tem alguém habilidoso como Arouca na função de primeiro volante. “Esse é, sem dúvida, um dos nossos trunfos: ter um meio de campo tão modelável”, garante Arouca.

    O importante, dentro das opções todas, é encontrar um jeito de fazer com que os dois fenômenos santistas, Neymar e Ganso, tenham condições de fazer diferença. “O Neymar é impressionante. Apesar de estar acostumado com as jogadas dele, de treinar com ele todos os dias e vê-lo treinar os dribles, as invenções, quando você acha que já viu de tudo, ele te surpreende com uma jogada diferente”, elogia o volante. “Ganso é outro craque, diferenciado. Esse ano ele teve algumas lesões que acabaram atrapalhando seu ritmo, mas ele é o nosso cérebro em campo e confiamos que vá chegar bem ao Mundial."