Proteção para Portugal
  Um goleiro seguro, uma dupla de zagueiros entrosada e laterais que sabem fechar os espaços. A princípio, a combinação parece perfeita e suficiente para formar uma defesa de respeito. Mas junte a isso um volante marcador e de porte físico avantajado, daqueles que intimidam qualquer meia de criação, e seu time será praticamente instransponível. Na Copa do Mundo Sub-20 da FIFA, é exatamente esta virtude que Portugal vem mostrando, muito em parte graças ao trabalho de Danilo na proteção da zaga.
  Se a equipe ainda não deslanchou no ataque, atrás a situação é bem mais confortável. Portugal é a única equipe entre as oito finalistas da Copa do Mundo Sub-20 da FIFA que ainda não sofreu gols, feito que somente duas seleções haviam conseguido no novo formato com jogos de oitavas de final: o Brasil, em 2005, e o Chile, em 2007. Até agora, foram quatro partidas sem grandes ameaças à meta de Mika, números que fazem o “cão de guarda” Danilo abrir um sorriso de satisfação no papo com o FIFA.com.
  “A gente tem feito um bom trabalho na defesa, é verdade. Estamos sempre jogando de forma compacta, evitando dar espaços para os atacantes adversários”, destaca o jogador do Parma, que atuou na última temporada emprestado ao grego Aris Thessaloniki. “Vem dando certo até agora. A organização atrás tem sido nosso ponto forte, e precisamos seguir assim, porque um time vencedor precisa ter uma defesa forte.”
  Para Portugal, contar com um jogador de 1,88 m à frente da área tem sido fundamental. E isso mesmo com algumas variações táticas e de jogadores promovidas por Ilídio Vale ao longo da competição. Nada, porém, que influenciasse a maneira de Danilo jogar. “Para mim pouco muda no 4-4-2 ou no 4-4-3, gosto das duas táticas. O que importa é estar ali no meio, onde consigo ler bem o jogo, defender e até sair para o ataque”, completa ele, que andou marcando gols tanto na última temporada do Campeonato Grego como pela seleção – fez dois no empate com o México pouco antes do Mundial.
Conexão Guiné
   Essa força e versatilidade têm rendido elogios dos demais companheiros de meio de campo. Um dos que aprovam é Pelé, que, embora cumpra uma função mais ofensiva, acaba sendo um importante parceiro no setor. “É bom jogar com ele (Danilo). A gente se entende e se reveza na marcação e nas subidas. Quando não estamos com a posse de bola tentamos sempre pressionar os meias, roubar o máximo de bolas e servir o ataque”, diz o camisa 2.
  E, no caso deles, o bom relacionamento se justifica. Afinal, ambos nasceram em Guiné Bissau, antiga colônia portuguesa. “Existe uma ligação por causa disso. Somos bons amigos”, explica Danilo, que, no entanto, não chega a ter grandes recordações do país de origem. “Fui para Portugal com cinco anos, porque minha mãe se formou como enfermeira, e acabamos ficando. Não cheguei a jogar futebol lá.”
  Não profissionalmente, claro. Mas Danilo, que havia descoberto o gosto pela bola ainda quando dava os primeiros passos em Mansôa, começou a se destacar nas peladas em Mem Martins, um vilarejo de Sintra, próximo a Lisboa. Foi no novo país que ele optou por deixar de lado o atletismo, esporte em que também se dava muito bem, e passou a despertar interesse do Benfica antes mesmo de completar dez anos. No entanto, somente em 2008 ele se juntou às categorias de base do clube encarnado, antes de enfim ser negociado com o Parma e de se firmar na seleção.
Questão de atitude
   Tranquilo fora dos campos, mas implacável dentro deles, Danilo também mostra personalidade ao analisar outros fatores do jogo de Portugal. Principalmente quando as coisas não saem bem. Foi o que aconteceu na última terça-feira, quando os jogadores deixaram o estádio Pascual Guerrero, em Cali, com expressão de tristeza mesmo após eliminar a Guatemala. E a razão era simples. “Não jogamos bem, estivemos muito abaixo das outras duas ou três partidas que fizemos antes”, aponta.
  Enquanto o treinador criticava a postura dos jogadores no duelo, o volante não se esquivava ao ser perguntado pelo FIFA.com sobre os motivos de tamanha queda no segundo tempo contra os guatemaltecos. “Abaixamos muito a cabeça e foi por isso que o treinador se irritou. Nem foi questão de erros, mas de atitude”, conta. “Eles tiveram méritos porque partiram para o ataque, mas a gente deveria estar preparado e não poderíamos ter sofrido assim.”
   Por isso mesmo, ele alerta para o perigo do próximo compromisso contra a hexacampeã mundial Argentina, no sábado, que vale vaga na semifinal. “Precisamos trabalhar a cabeça nestes próximos dias. Se entrarmos da mesma forma que no último jogo pode ser fatal.” O aviso está dado: para superar um rival tão temido e seguir sonhando com o tri, será preciso muito mais do que uma defesa bem protegida.