Cavani: "Estamos bem preparados"
  O uruguaio Edinson Cavani não precisa mais de apresentação. Mais do que ter sido fundamental na mudança de postura da seleção uruguai que chegou à semifinal da Copa do Mundo da FIFA 2010, o atacante teve uma excelente primeira temporada no Napoli e, com seus 26 gols que o colocaram na segunda posição na tabela de artilheiros do Campeonato Italiano, atrás apenas de Antonio Di Natale, foi decisivo no retorno do clube à Liga dos Campeões.
  Concentrado com a Celeste em solo argentino a poucas horas da estreia na Copa América contra o Peru, o "Matador" conversou com o FIFA.com sobre a sua excelente fase, as chances do Uruguai no torneio sul-americano e a vida longe do futebol.
FIFA.com: Há menos de seis meses, você foi pai pela primeira vez. O que mais é difícil: trocar uma fralda ou converter um pênalti?
Edinson Cavani: Acho que é mais difícil acertar um pênalti (gargalhadas). Quando a gente troca a fralda do filho, pode errar, mas com o tempo acaba aprendendo. Já a cobrança de um pênalti pode ser um momento histórico para a gente e para a equipe. São duas responsabilidades diferentes, mas as encaro com a mesma seriedade.
O quanto a paternidade influiu no seu futebol?
   Influiu muito. Queríamos um filho há bastante tempo. Entretanto, é Deus quem decide quando ele deve vir. Posso dizer que o bebê chegou em um momento muito especial da minha carreira e do meu casamento. A presença dele não nos atrapalha em nada, pois também tentamos encontrar tempo para ficarmos a sós. Mas também queremos tê-lo cada vez mais presente, para que possa compartilhar os principais momentos das nossas vidas. Afinal, já que lhe demos a vida, ele tem todo o direito de acompanhar o pai.
Dizem que um filho traz sorte. No seu caso, trouxe gols...
   É verdade (volta a rir). Realmente, ele me deu mais serenidade, convicção e tranquilidade. Aquela pessoa sozinha não existe mais, pois construiu uma família. Isso dá mais confiança para trabalhar. Como dizia antes, a notícia da gravidez veio em um momento de transição, justamente depois da Copa do Mundo e da minha transferência para o Napoli. A partir daí, começaram a aparecer os gols que me faltaram na África do Sul.
Na Copa do Mundo da FIFA você não jogou como atacante de referência, que é a sua posição de origem, e anotou apenas um gol. No final das contas, aquela situação acabou sendo positiva?
   Com certeza. Não só pelos aspectos táticos, mas também porque em um Mundial você compete com os melhores jogadores do mundo e ganha mais experiência. Acredito que a competição deu a todos, não só a mim, convicção de que cada um de nós e o Uruguai como um todo estão à altura dos melhores do mundo. E isso, sem dúvida, me ensinou a caprichar na hora em que estiver na frente do gol.
Até que ponto o surpreendeu aquela explosão de gols na Itália?
   A gente sempre trabalha pensando em encerrar a temporada da melhor maneira, mas nunca sabe o que pode acontecer. Não esperava que aquilo fosse ocorrer tão rapidamente, mas, por algum motivo, aconteceu. No fim de tudo, acredito que os resultados são fruto de muito trabalho e regularidade.
No entanto, você não chegou a ser o goleador da Série A italiana. Lamenta?
   Não dá para lamentar pelo fato de que na vida aprendi a dar o meu máximo, dentro e fora das quatro linhas. Então, se me esforcei ao máximo, não posso reclamar de nada. Aprendi muito com a expulsão que me tirou das três últimas rodadas e pode ter me custado a artilharia do campeonato. Mas era para acontecer e me serviu de lição.
Falando do Napoli, como se sentiu ao ser homenageado com uma canção tão cedo? Como é conviver com a paixão do torcedor napolitano?
   (risos) É como ganhar um poema: ele se transforma em uma grande demonstração de carinho e afeto. Às vezes pode ser difícil, por que nos faz sentir acima do normal. No entanto, devemos manter o nosso jeito de ser e nunca perder a humildade. Estou muito feliz com o tratamento do Napoli e do pessoal de lá. Por isso não vejo a hora de voltar à cidade para a próxima temporada.
O azul-celeste parece ser o seu forte, não é? Uruguai, Napoli, também se falou do Manchester City...
   É verdade! Acredito em Deus e essas coisas parecem mensagens, mas não deixam de ser meras casualidades.
Falando da Celeste, vocês se consideram favoritos para a Copa América?
   Para mim, não existem favoritos em torneios do porte de uma Copa América ou Mundial. Cada seleção leva o que tem de melhor, jogadores que estão em grande fase e, assim, fica difícil apontar um favorito. Em uma liga, as grandes equipes são obrigadas a vencer, pois têm tempo para ver o mercado e contratar jogadores de acordo com o planejamento tático do treinador. Os torneios de seleções são diferentes. Os favoritos vão surgindo à medida que vão acontecendo as partidas.
Aquele quarto lugar na África do Sul não pode colocar um peso extra para a Copa América?
   Não acredito. Os amistosos vêm mostrando que o Uruguai segue trabalhando com a mesma intensidade que teve antes e no decorrer do Mundial. Vimos que é possível perder da Estônia e ganhar da Irlanda, assim como também é natural ganhar da Holanda e perder da Alemanha, por exemplo. Estamos bem preparados, mas só com o passar dos jogos saberemos até onde podemos chegar.