Em outubro do ano passado, causou surpresa no noroeste da Inglaterra a escolha do sul-coreano Lee Chung-Yong como melhor jogador da região em 2009/10, superando nomes como o astro do Manchester United Wayne Rooney.
Analisando com calma, porém, o reconhecimento ao meio-campista do Bolton na tradicional premiação regional não tem nada de estranho. Afinal, ele já havia faturado outros três títulos individuais dentro do clube: o de melhor jogador da temporada, de melhor jogador da temporada na escolha dos jogadores e o de melhor contratação do campeonato. Além disso, as atuações de Lee na Copa do Mundo da FIFA 2010 despertaram a atenção do Liverpool, que estaria preparando uma oferta pelo atleta.
O ex-meia do Seul deixou ótima impressão na sua temporada de estreia na Premier League. E manteve o nível no ano seguinte, marcando quatro gols e fazendo a jogada de outros oito nos 35 jogos que disputou em 2010/11. Para completar a boa fase, Lee balançou as redes no final da partida fora de casa contra o Birmingham pelas quartas de final da Copa da Inglaterra, classificando o Bolton para a semifinal em Wembley.
Em entrevista exclusiva ao FIFA.com, o sul-coreano falou sobre esse gol, a semifinal, o antigo clube e as mudanças na seleção desde a África do Sul 2010. 
FIFA.com: Faz quase dois anos que você estreou de maneira impressionante pelo Bolton. Como conseguiu se adaptar tão bem ao futebol inglês em tão pouco tempo?
Lee Chung-Yong:
Na verdade não sei, talvez eu tenha sorte aqui no Bolton. Todos no clube, a comissão técnica e os jogadores, me apoiaram e ajudaram muito. Quando o técnico anterior (Gary Megson) saiu no meio da minha primeira temporada, fiquei triste de vê-lo partir, mas continuei a jogar o meu futebol e a me integrar ao time.
Owen Coyle assumiu o comando após a saída de Megson. O que mudou?
Éramos um bom time, mas com ele estamos cada vez melhor e indo na direção certa. Brigamos contra o rebaixamento no ano passado e agora vamos encerrar a temporada na metade de cima da tabela. Quando o Owen chegou, o clima no vestiário e nos treinos mudou, assim como quase tudo dentro e fora de campo.
O Bolton também esteve a 90 minutos da final da Copa da Inglaterra, o que deve ter sido uma experiência fantástica para você...
Mal acreditei quando fiz o gol que nos colocou na semifinal contra o Stoke em Wembley. Foi uma vitória dramática (nas quartas de final) e conseguimos a rara chance de jogar em um palco tão importante — provavelmente o mais importante de toda a minha carreira profissional. Mas perdemos de maneira inexplicável, 5 a 0. Sofremos gols fáceis no começo da partida e não conseguimos nos recuperar, enquanto eles aproveitaram as oportunidades que tiveram. Simples assim. Certamente foi um grande aprendizado.
Vocês perderam quatro dos cinco jogos que disputaram depois disso. Acha que o time teve dificuldades para deixar a derrota na Copa da Inglaterra para trás?
Não, acho que não. No jogo após a semifinal vencemos o Arsenal por 2 a 1 em casa. Embora atualmente estejamos sem ganhar, tentamos dar cem por cento em todas as partidas, como fizemos ao longo de toda a temporada.
Foi uma boa temporada para você e para o clube?
Sim. O time se tornou uma unidade, e não um punhado de jogadores. Também nos tornamos uma equipe mais resistente. Não desistimos nunca, em circunstância alguma, e talvez você tenha visto que conseguimos virar o placar algumas vezes. Individualmente também estou satisfeito, porque consegui terminar a temporada sem nenhuma lesão grave.
Você vestia a camisa 27 no Seul, mesmo número que usa no Bolton. A sensação de estar em casa também é igual nos dois clubes?
Bom, o número não tem nenhum significado especial. Quis mantê-lo só por uma questão de continuidade, mesmo. Fora isso, tudo é diferente. Bolton é uma cidade tranquila e agradável de se viver e posso me concentrar apenas em jogar futebol.
Como se sentiu ao ver o Seul ganhar o campeonato do ano passado, na temporada seguinte à sua despedida?
Fiquei muito feliz, porque é o clube da minha cidade natal. Ao mesmo tempo fiquei chateado que o Seul tenha sido vice-campeão logo depois que me transferi para a Inglaterra, em 2009. Queria que o time tivesse sido campeão naquele ano, também.
A sua função na seleção da Coreia do Sul está ficando cada vez mais importante, depois que o ex-capitão Park Ji-Sung se despediu da equipe. Como está sendo o processo de renovação do grupo, sem os jogadores mais experientes?
É verdade que os rapazes contavam enormemente com o Ji-Sung e o [Lee] Young-Pyo. A simples presença deles foi uma vantagem imensa para nós, especialmente em torneios grandes como a Copa do Mundo da FIFA na África do Sul e na Copa Asiática de Seleções no Catar. Ainda sentimos falta deles e acho que ficamos um pouco mais "soltos" do que éramos. No momento seria bom tê-los de volta, mas precisamos encarar a realidade e seguir em frente.
Então, vocês já começaram a sentir a pressão antes das eliminatórias para a Copa do MUndo da FIFA Brasil 2014?
De maneira alguma. Estamos evoluindo cada vez mais. É só uma questão de tempo até nos tornarmos uma equipe mais forte. Começamos do zero quando empatamos sem gols com a Turquia, em fevereiro, mas já éramos um grupo bem melhor quando derrotamos Honduras por 4 a 0 em março. Estamos no bom caminho e, se continuarmos assim, sem sentir a pressão e fazendo o nosso melhor com a atitudade certa, conseguiremos alcançar os nossos objetivos.