Como diz o ditado, a primeira impressão é a que fica. E em nenhum meio isso é mais verdadeiro do que no futebol, onde as estreias são raramente esquecidas e podem servir como trampolim para o sucesso ou como o primeiro passo rumo ao fracasso. E, apesar de quase todos os jogadores se lembrarem do primeiro jogo com a camisa de um clube ou da sua seleção, o FIFA.com descobriu que alguns começos são mais inesquecíveis do que outros.
Começamos pelos sortudos, aqueles jogadores que estreiam exibindo um nível tão alto que parece quase impossível acompanhá-los. Um célebre exemplo é o de Zinedine Zidane. O grande Zizou era apenas um jovem meia em ascensão no Bordeaux quando vestiu a camisa da França pela primeira vez, em agosto de 1994. Os Bleus perdiam por 2 a 0 para a República Tcheca e a ajuda que ele podia oferecer ao entrar em campo como substituto não parecia muito animadora.
"Comecei muito mal", relembra o francês. "Cobrei mal uma falta e errei dois ou três passes que até o meu avô acertaria." Mas dizer que a situação melhorou na sequência seria minimizar o que aconteceu. Aos 22 anos, Zidane arrancou um empate para a França marcando duas vezes em um mesmo jogo pela primeira vez na sua carreira. O primeiro foi em um golaço de pé esquerdo de fora da área e o segundo, em uma cabeçada, depois de um salto impressionante.
Assim como a estreia de Zizou pela sua seleção foi um indício das façanhas que viriam a seguir, a primeira apresentação de Emilio Butragueño com a camisa do Real Madrid, em fevereiro de 1984, fez com que a torcida merengue enxergasse logo um futuro ídolo do clube. Foi Alfredo Di Stéfano quem descobriu o potencial do jogador, que então tinha apenas 20 anos. Mais apropriado, impossível. A confiança do técnico argentino foi recompensada quando o jovem entrou em campo como substituto e transformou uma desvantagem de 2 a 0 em uma vitória por 3 a 2 sobre o Cádiz, com dois gols e um passe decisivo.
Wayne Rooney é outro que teve um começo quase imbatível. Ele marcou a estreia pelo Manchester United em 2004 tornando-se o mais jovem jogador a fazer três gols na mesma partida pela Liga dos Campeões da Europa, na arrasadora goleada de 6 a 2 sobre o Fenerbahçe. Com 18 anos, porém, Rooney já era bastante experiente se comparado com Javier Saviola, quase um menino quando vestiu a camisa do River Plate pela primeira vez, em outubro de 1998. Aos 16 anos e com apenas um punhado de treinos nas costas pela equipe principal, o argentino não pôde acreditar quando foi relacionado para ficar entre os reservas do jogo contra o Gimnasia y Esgrima de Jujuy. Por isso, a reação que teve ao marcar um gol foi uma previsível mistura de alegria e descrença.
"Só estar no banco já era incrível", relembrou. "Eu precisei conferir três vezes que o meu nome estava na lista até acreditar que era verdade. A minha família estava preocupada, porque eu não tinha chegado em casa no horário em que costumava fazer, mas quando finalmente voltei e contei a grande novidade, todos choramos juntos."
Quando começou, Saviola era provavelmente motivo de curiosidade para a maioria dos espectadores. Em compensação, outros jogadores fizeram as suas estreias em meio ao peso de uma grande expectativa — e muitas vezes de um valor exorbitante pelas suas contratações. Um exemplo foi Tony Cottee, que entrou em campo pelo Everton pela primeira vez em 1988, sob pressão para justificar os 2 milhões de libras pagos por ele e a condição de atleta mais caro da história na Inglaterra. Mas bastaram 34 segundos para que o jovem marcasse o primeiro dos seus três gols na vitória de 4 a 0 sobre o Newcastle.
Mais recentemente, Giampaolo Pazzini não demorou em recompensar os 12 milhões de euros desembolsados pela Internazionale de Milão para contratá-lo. Dois dias depois de assinar com o clube, ele marcou duas vezes e ainda sofreu um pênalti no fim da inesquecível virada da equipe sobre o Palermo, por 3 a 2. "Eu nunca teria sonhado com uma estreia melhor", admitiu depois.
Mas, quando se trata de causar impacto instantâneo, certamente ninguém bate o espanhol Isidro Langara. Depois de disputar a Copa do Mundo da FIFA 1934, ele fugiu da guerra civil no país natal emigrando para a Argentina em 1939, em uma longa e desconfortável viagem de navio.
Mal havia posto os pés em terra firme quando funcionários do San Lorenzo, avisados da sua chegada, de alguma maneira o convenceram a jogar pelo clube contra o River Plate... naquela mesma tarde! Apesar de enferrujado e fora de forma, como era de se esperar, Langara comandou a vitória por 4 a 2, marcando os quatro gols da equipe em um intervalo de apenas 28 minutos. Depois, acumulou mais de cem, em uma brilhante carreira pelo clube argentino.
Outras estreias, porém, são inesquecíveis por razões distintas. Marco van Basten e Eidur Gudjohnsen provavelmente nunca esquecerão as suas primeiras apresentações pelo Ajax e pela seleção da Islândia, respectivamente. O motivo era quem eles substituíram ao saírem do banco de reservas. O holandês entrou no lugar do seu ídolo, Johan Cruyff, e o segundo tirou de campo ninguém menos do que o próprio pai, Arnor Gudjohnsen.
Para alguns jogadores, estrear em alto nível virou um hábito. É o caso do inglês Jimmy Greaves, famoso por ter marcado na primeira vez em que vestiu a camisa dos quatro grandes clubes que defendeu ao longo das décadas de 1960 e 1970 — Chelsea, Tottenham, Milan e West Ham —, além de fazer o mesmo pela seleção inglesa. O seu compatriota Alan Shearer foi igualmente impressionante. Primeiro, estreou pelo Southampton se tornando o mais jovem jogador a marcar três gols em um mesmo jogo do Campeonato Inglês — superando a marca do próprio Greaves. Mais tarde, balançou as redes nas primeiras partidas que fez tanto pelo Blackburn quanto pela Inglaterra.
Mas nem todas as estreias de impacto são um prenúncio de um grande futuro. O italiano Fabrizio Ravanelli, por exemplo, marcou três vezes contra o Liverpool no seu primeiro jogo pelo Middlesbrough, mas a temporada terminou com o time rebaixado e o atacante sendo rapidamente dispensado. Da mesma forma, o uruguaio Álvaro Recoba nunca conseguiu repetir o êxito da estreia pela Inter de Milão. Na ocasião, ele ficou famoso por ofuscar o também estreante Ronaldo, marcando dois golaços nos últimos dez minutos de partida e ajudando a sua nova equipe a virar o jogo contra o Brescia.
Com pé esquerdoMas se esses jogadores desperdiçaram a boa imagem inicial que deixaram, outros encararam estreias tão terríveis que foi difícil se recuperarem. Quem não se lembra do inglês Jonathan Woodgate, que, contundido, teve de esperar mais de um ano para entrar em campo pelo Real Madrid e então fez um gol contra e foi expulso na sequência? Com certeza, nem o próprio jogador se esquece. "Estou chocado", foi o que ele conseguiu dizer após o jogo. Aleksandr Zavarov, tachado de substituto de Michel Platini na Juventus, também sumiu sob tanta expectativa na sua estreia pela equipe alvinegra. Primeiro, desviou uma cobrança de falta que acabou em gol contra o próprio time e, então, perdeu o equilíbrio, caiu e se machucou sozinho ao dar um drible malfeito.
Uma má primeira apresentação também pode acabar em dispensa. Esse foi exatamente o destino de Jason Crowe, do Arsenal. Depois de esperar anos pela estreia, a ânsia de deixar a sua marca ficou evidente quando ele deu uma entrada duríssima em Martin O'Connor, do Birmingham. O cartão vermelho que se seguiu foi mostrado a exatamente 33 segundos de jogo — um dos mais rápidos da história do futebol inglês — e o jovem atuou apenas mais duas vezes pelo clube, antes de ser vendido.
Mas se você acha que Crowe teve azar, pense no pobre Stanley Milton, um goleiro inglês da década de 1930. A sua primeira partida pelo Halifax foi inesquecível, mas pelo motivo errado. Ele era o último homem na defesa da equipe, que foi derrotada por 13 a 0 — até hoje um recorde negativo no Campeonato Inglês.
Volta por cima
Felizmente, nem toda estreia desastrosa significa uma carreira decepcionante. Patrick Evra foi substituído no intervalo do seu primeiro jogo pelo Manchester United, após ter sofrido com os ataques de Trevor Sinclair na derrota para o Manchester City por 3 a 1. Desde então, porém, foi se consolidando como um dos melhores laterais esquerdos do mundo.
Por sua vez, Henrik Larsson foi recebido pela imprensa escocesa com trocadilhos pouco favoráveis quando o primeiro toque que deu na bola com a camisa do Celtic acabou virando um passe para Chic Charnley, que marcou um dos gols da vitória do Hibernian por 2 a 1. Para piorar, na sequência o sueco fez um gol contra na sua estreia em torneios europeus pela equipe. No entanto, depois ele foi se firmando aos poucos como um dos maiores jogadores da história do tradicional clube de Glasgow, marcando 174 vezes em uma brilhante passagem que durou sete anos.
Lilian Thuram foi outro que se recuperou de uma má estreia. Pelo Monaco, ele praticamente entregou o ouro ao Metz ao recuar mal a bola, enganado pelo grito de "passa para o goleiro!" de François Calderaro, o atacante cara de pau que acabou marcando o gol.
Mas nem mesmo os craques mais famosos estão imunes a pisar na bola. Johan Cruyff foi expulso na sua estreia pela seleção holandesa. Foi o mesmo destino de Lionel Messi, que acertou uma cotovelada no rosto do zagueiro húngaro Vilmos Vanczak e recebeu o cartão vermelho apenas 40 segundos depois de ter saído do banco. "Este definitivamente não era o jogo com o qual eu sonhei", foi a óbvia declaração do astro do Barcelona após a partida.
É improvável que ele consiga esquecer aquela estreia. Mas tanto Messi quanto Cruyff — e muitos outros antes deles — conseguiram ao menos provar que as primeiras impressões nem sempre ficam.