A expectativa pelo primeiro jogo da Seleção Brasileira em casa em quase dois anos era grande, ainda mais contra o adversário que havia encerrado em 2010 o sonho do hexacampeonato mundial. Mas dentro de campo, a euforia da torcida que compareceu ao Serra Dourada, em Goiânia, se transformou em desconfiança e insatisfação. Ao final de 90 minutos irregulares e com poucas chances reais de gols, o empate em 0 a 0 com a Holanda deixou um sentimento duplo de frustração: não houve gols, não houve revanche.
Houve, sim, a cobrança, algo que os jogadores tentaram compreender. “É normal, torcedor é paixão, paga o ingresso para ver gols e, em jogo que termina 0 a 0, tem que haver cobrança mesmo”, destacou o goleiro Júlio César. “Temos que entender essa situação, assim como eles precisam ver que é o início de um trabalho, que temos pouco tempo para trabalhar e que a Holanda já vem com um time montado.”
Esta foi a sétima partida da Seleção sob o comando de Mano Menezes e o primeiro empate. O saldo continua positivo, com quatro vitórias e duas outras derrotas. Já no confronto direto com os holandeses – que eliminaram o Brasil nas quartas de final da África do Sul 2010 com um triunfo por 2 a 1 –, o empate em todos os quesitos persiste: são três vitórias para cada lado, cinco empates e 15 gols para ambos.
Apesar de Júlio César citar a manutenção do elenco holandês, estiveram presentes no time titular neste sábado apenas quatro jogadores que participaram do confronto em Port Elizabeth (Heitinga, Kuyt, Van Persie e Robben), mesmo número do Brasil (Júlio César, Daniel Alves, Lúcio e Robinho). No time europeu, a grande ausência ficou por conta de Sneijder, enquanto do lado brasileiro Neymar era a grande novidade estreando ao lado da torcida.
Foi o astro do Santos, aliás, o jogador de mais destaque do país no duelo. Apesar de um primeiro tempo apagado, foi ele quem mais se movimentou, desperdiçando duas boas oportunidades para marcar na segunda etapa. Já a Holanda mostrou seus dotes ofensivos sobretudo no início, com o quarteto formado por Robben, Kuyt, Van Persie e Afellay funcionando em ao menos duas ocasiões. O jovem atacante do Barcelona comandou as ações, perdendo chance cara a cara com Júlio César e parando novamente no goleiro brasileiro em chute da entrada da área.
Lento, o Brasil quase não criou, com Elano, Fred e os laterais Daniel Alves e André Santos pouco utilizados. A segunda etapa ao menos viu uma Seleção com mais vontade. Mesmo sem substituições, Mano Menezes mexeu com o time, que respondeu com duas belas jogadas antes dos cinco minutos: a primeira em passe de Elano para Neymar, que parou em defesa de Krul, e a segunda em bom chute do santista novamente parado pelo arqueiro.
Animado e ainda apoiado pela torcida, o Brasil foi para cima e fez o que não conseguiu no início: chutar a gol. Foram mais seis oportunidades até os 15 minutos, sempre com Krul levando a melhor sobre os atacantes. Quando deixou escapar a bola de Robinho, o lateral Pieters tirou em cima da linha e evitou o gol de Fred.
A partida ficou então aberta, como um verdadeiro Brasil e Holanda. Faltou, como em todas as outras ocasiões anterior, o gol. Pelo lado brasileiro, Mano Menezes pôs em campo Lucas, Sandro, depois Leandro Damião e Elias, mas a expulsão de Ramires por uma segunda falta em Robben ainda aos 30 minutos acabou atrapalhando os planos do treinador.
Até o fim, a Holanda apareceu uma vez com perigo com Robben, aproveitando erro na saída de Lúcio – zagueiro que comemorava seu centésimo jogo com a Amarelinha – e se contentou com o empate que manteve a invencibilidade de dez partidas (oito vitórias e dois empates desde a Copa do Mundo da FIFA).
Para a Seleção, o resultado foi sem brilho. Resta agora recuperar forças e o foco para o próximo jogo, daqui a três dias, contra a Romênia, no Pacaembu. O gol e a vitória, neste caso, terão valor em dobro: ajudar a fechar com brilho a carreira de Ronaldo. E a meta já parece estar na cabeça dos jogadores, como garantiu Thiago Silva. “A gente podia ter rendido mais, mas fazia tempo que não jogávamos juntos e no calor. Agora espero que na terça a gente possa concretizar as chances para fazer a festa do Ronaldo ficar mais bonita.” A torcida agradecerá.