Quando tinha 12 anos, Darío Rodríguez assistiu ao último título da Copa Libertadores conquistado pelo Peñarol e sonhou em um dia defender o seu clube do coração na decisão do torneio. Hoje com 36, ele é o capitão e ícone de um time que, após 24 anos de espera, se prepara para disputar pela décima vez a final da principal competição interclubes sul-americana.
   "Lembro como se fosse hoje", afirma o zagueiro, em entrevista exclusiva ao FIFA.com, sobre o título de 1987. "Naquele tempo, não havia tantas TVs em cores e fui ver o terceiro jogo contra o América de Cáli na casa de um tio que já faleceu. Quando o Diego (Aguirre), o nosso atual técnico, marcou o gol da vitória no último minuto da prorrogação, saí correndo até a rua e subi direto em um caminhão com uns amigos para comemorar no centro de Montevidéu."
   O destino quis que Rodriguez estreasse profissionalmente em 1992 pelo modesto Sudamérica e que passasse pelo México e pelo também uruguaio Bella Vista antes de finalmente vestir a camisa aurinegra do Peñarol em 1999. Naquela sua primeira passagem pelo clube, o jogador de personalidade forte e com espírito de líder conquistou um Campeonato Uruguaio e foi tão bem que conseguiu fazer parte da seleção que disputou a Copa do Mundo da FIFA Coreia do Sul/Japão 2002, marcando contra a Dinamarca um gol que, segundo o jornal inglês The Times, foi o quarto mais bonito da história da competição. "Um exagero", diz rindo o zagueiro, que também pode atuar de lateral esquerdo.
   Depois daquele Mundial, Rodríguez fez as malas para ir à Europa, contratado pelo Schalke 04. No clube alemão, jogou seis temporadas e ganhou duas Copas Intertoto e uma Copa da Alemanha. Então, retornou ao Peñarol, motivado pelo velho sonho de dar mais voltas olímpicas com o seu clube do coração. Mas eram tempos de vacas magras. "Naquele momento, era uma utopia pensar que chegaríamos tão longe", analisa. "Eu me considero um operário do futebol. Nesta profissão, se você não é um dos 'eleitos', passará mais vezes tendo de se reerguer do que estando por cima. Por isso, estou aproveitando para curtir o que estou vivendo agora."
Da surpresa ao merecimento
   
Para muita gente, é uma surpresa que o Peñarol seja finalista da Libertadores, apesar do peso da sua história e do recente título uruguaio de 2010. "Nós nos preparamos sonhando em chegar até aqui", explica Rodríguez. "Lá no fundo, tínhamos a intuição de que poderíamos fazer um bom torneio, mesmo depois do banho de água fria da derrota por 3 a 0 para o Independiente logo na estreia. Mas um dos méritos deste grupo é saber se levantar após uma queda e se sair bem de situações-limite. Muitos nos davam como eliminados depois do empate com o Internacional no Uruguai e acabamos ganhando no Brasil."
   Rodríguez reconhece que algumas pessoas não enxergam muitos méritos futebolísticos na equipe, mas isso não o preocupa. "Temos consciência do nosso potencial e das nossas limitações", admite. "No banco de reservas, temos jogadores como Fabián Estoyanoff, Antonio Pacheco, Fabián Carini, Jonathan Urretaviscaya... Todos seriam titulares em outros clubes. Isso não só indica que os titulares estão indo bem, como também mostra as opções que temos no elenco."
   De olho na final, Rodríguez analisa o Santos. "É uma típica equipe brasileira, com bom domínio de bola, sempre buscando a meta adversária", afirma. "O Neymar está em um grande momento e tudo dá certo para ele, mas o Ganso também tem categoria e será bom para nós que ele não jogue o primeiro encontro. Além deles, o Elano é muito bom tanto na bola parada como em visão de jogo. Tem algumas coisas que podemos explorar, mas isso eu guardo para mim mesmo. É claro que os respeitamos, mas isso até que o juiz apite."
   Uma carreira de 19 anos em times de elite pode parecer muito tempo, mas o zagueiro não marca uma data para a aposentadoria, muito menos com a possibilidade iminente de disputar uma Copa do Mundo de Clubes da FIFA. "Quem não gostaria de ter a chance de enfrentar o Barcelona, uma das melhores equipes da história?", pergunta. "O segredo é não nos desviarmos dos nossos objetivos. Contra o Santos, nos aguardam 180 minutos duríssimos e o importante é ganhar os primeiros 90 em Montevidéu."
   É compreensível que Rodríguez não queira pensar em nada além da final, mas a sua última afirmação tem mais a ver com o futuro do que com o presente. "Sabemos que a glória é para apenas uma equipe", reconhece. "Cada vez que entramos na concentração de Los Aromos, vemos as fotos com as equipes que um dia ergueram o troféu da Libertadores. Espero que, daqui a 20 anos, a imagem deste grupo também esteja na mesma galeria."