Se em 2003, quando o Santos viu uma geração de ouro perder o título da Copa Libertadores para o Boca Juniors, alguém dissesse a Elano que oito anos mais tarde ele voltaria a participar de uma decisão da competição, desta vez como grande líder de uma outra safra de ouro, o meia talvez desse boas risadas. O camisa 8 provavelmente desconfiaria em igual medida se ouvisse que, na mesma temporada, seria o artilheiro do Campeonato Paulista. No entanto os dois fatos inimagináveis para o então coadjuvante são prova concreta de uma grande virada na carreira do jogador.
  Aos 30 anos, Elano passou de figurante a protagonista em diversos cenários e hoje capitaneia os novos Meninos da Vila na tentativa de reescrever a história diante do Peñarol, no Pacaembu, palco da partida que vale o título do mais importante torneio continental.
  A caminhada foi longa e teve escalas em lugares que Elano possivelmente também não imaginava conhecer. O meia passou por Shakhtar Donetsk, Manchester City e Galatasaray - sem falar na Seleção Brasileira - antes de voltar à Baixada Santista. Encontrou na Vila Belmiro uma nova leva de talentos à altura do grupo que tinha Diego, Robinho e Renato, entre outros. Com Paulo Henrique Ganso e Neymar no time, entrar novamente no papel de coadjuvante seria um caminho previsível, mas Elano conseguiu o improvável: virou uma grande referência na equipe agora comandada por Muricy Ramalho.
  "Minha volta está sendo muito bonita, gostosa. Tudo o que eu programei está acontecendo. Voltei para onde eu queria, onde iniciei minha história e estou podendo dar continuidade a isso, e sempre disputando títulos", disse o meia depois da conquista do Campeonato Paulista, em que marcou 11 gols, dividindo a artilharia com Liédson, do Corinthians.
  A maturidade do camisa 8 santista começou a ser moldada na Europa. A responsabilidade e o auto-controle em momentos decisivos não passaram batidos por diversos técnicos. “Em todos os times pelos quais passei na Europa, eu era o batedor de pênaltis. Um dia o Robinho pediu para bater e perdeu. Depois eu ouvi um monte do treinador”, lembrou o meia em entrevista recente. No Santos, Elano não carrega a faixa de capitão - Edu Dracena é oficialmente o líder da equipe em campo - mas conta com a confiança irrestrita de Muricy.
  Seu antecessor no cargo, Adilson Batista já havia apontado Elano como homem de confiança. "Tem profissionalismo, experiência, bom comportamento e ambição. Às vezes, para os jovens, o mais difícil é fazer as coisas simples. Ele simplifica e assim fica mais bonito", elogiou na ocasião.
Lições aos mais jovens
  A influência de Elano em um elenco tão jovem é visível e fica clara na dinâmica da equipe, mas é ainda mais visível no ambiente extra-campo. Grande joia da nova geração do Santos, Neymar é um dos que fazem elogios rasgados ao mais maduro dos Meninos da Vila.
  "O Elano é um anjo que caiu do céu em minha vida. É como um irmão, aprendo muito com ele. Antes, eu era um fã e agora que conheço como pessoa, de sair junto, de dividir o quarto, o admiro ainda mais", disse Neymar durante entrevista coletiva às vésperas da decisão.
  Constantemente cobrado a comparar Neymar, Ganso e companhia ao grupo de 2003, Elano se esquiva com eficiência. Prefere se concentrar nos resultados, que podem de fato diferenciar as duas gerações - um título da Copa Libertadores, por exemplo, daria ao atual elenco um novo status.
  "São duas grandes equipes e fico feliz de fazer parte das duas gerações. Já passei por esse momento e hoje estou aqui com algum sucesso, depois de ter jogado uma Copa do Mundo e ganhado dois títulos brasileiros. Espero que esses garotos tenham o mesmo sucesso que eu ou até mais. Vamos atrás dos títulos, que é o mais importante".
  O título mais cobiçado está a 90 minutos de distância. Depois do empate em 0 a 0 no Estádio Centenário, em Montevidéu, a experiência do camisa 8 será fundamental para as pretensões do Santos de repetir a história de 1962. Com Edu Dracena fora da partida, caberá mais do que nunca ao meia liderar os Meninos da Vila. Cenário perfeito para mais um capítulo da surpreendente trajetória de Elano.