Os torcedores do Manchester United começaram a temporada desconfiados. O time vinha de um vice-campeonato na cada vez mais ferrenha rivalidade com o Chelsea, e segundo lugar para uma equipe tão vitoriosa tem o inevitável sabor da derrota. Era necessário crescer, mas as perspectivas não eram das melhores. Afinal, no plantel estava um meia francês que fracassara no Bordeaux, um atacante mexicano considerado muito mais uma promessa do que uma realidade e um garoto que só havia disputado a terceira divisão portuguesa. Além disso, Edwin van der Sar, Paul Scholes e Ryan Giggs estavam um ano mais próximos da aposentadoria, e o craque Wayne Rooney vinha de atuações decepcionantes na Copa do Mundo da FIFA 2010.

   Mas a torcida nem imaginava o pior: que Antonio Valencia passaria dois terços da temporada lesionado, que Rio Ferdinand disputaria apenas metade dos jogos, que Wayne Rooney faria somente 11 gols (pior marca dele desde a chegada ao clube em 2004), que Dimitar Berbatov, artilheiro do time, encararia um jejum de sete partidas consecutivas e outras duas secas por seis jogos seguidos, que o manager Alex Ferguson ficaria apenas olhando o Chelsea contratar o quarto jogador mais caro da história e um dos zagueiros de preço mais alto de todos os tempos, e que os diabos vermelhos conquistariam apenas cinco vitórias em 19 jogos fora de casa.

O campeão
Não há dúvida de que o Manchester United enfrentou muitos problemas no galope rumo ao título. Por outro lado, teve no comando técnico um jóquei acostumado a vencer como azarão desde a sua chegada há 25 anos.
   Mostrando que não era cavalo paraguaio, o time de Old Trafford não apenas conquistou a Premier League, como também o fez com nove pontos de vantagem sobre o Chelsea. Como bônus, superou o velho rival Liverpool e isolou-se como o maior campeão nacional da história da Inglaterra, com 19 títulos.
  Fundamentais para a conquista do Manchester foram os 55 pontos conquistados em 57 disputados no Old Trafford, além da capacidade de buscar o resultado em partidas quase perdidas e de um elenco com grande qualidade individual. Nani finalmente evoluiu e foi um dos jogadores mais produtivos da temporada, com nove gols e 18 assistências. Van der Sar, aos 40 anos e na despedida do clube, fez talvez a sua melhor campanha desde a contratação em 2005. Nemanja Vidic foi uma barreira quase intransponível na defesa. Scholes e Giggs deram importantes contribuições respectivamente no início e no final da temporada. Berbatov foi um dos artilheiros da liga com 20 gols. Rooney transformou o seu estilo, passando de goleador a garçom. Hernández balançou as redes dez vezes nos últimos 921 minutos em campo. E o brasileiro Anderson aproveitou as oportunidades no final da temporada para mostrar bom futebol e garantir o retorno à Seleção.
"Acho que nunca houve uma temporada tão dramática quanto esta", declarou Ferguson aos torcedores após a vitória de virada por 4 a 2 sobre o Blackpool neste domingo. "Todos aqueles gols no último minuto... Não sei como a gente consegue sobreviver! Vou precisar sair daqui de maca no final do dia! Os gols no último minuto exemplificam a garra do Manchester United. Esta conquista é especial porque significa que ganhamos o título mais vezes do que qualquer outro time neste país. Ela entra para a história e é ótima para a tradição deste clube. Todo mundo está vivendo um momento especial hoje."

Os classificados
  Vice-campeão, o Chelsea teve uma temporada de altos e baixos. Apesar de começar a campanha na liderança, o time de Carlo Ancelotti despencou em novembro e chegou a estar em quinto, a 15 pontos do líder. Os azuis ainda conseguiram se recuperar e, com 25 pontos em nove jogos, chegaram a Old Trafford para um duelo decisivo diante do Manchester United precisando de uma vitória para dependerem apenas de si nas duas últimas rodadas. Derrotado por 2 a 1, o time de Stamford Bridge voltou a cair e só garantiu o segundo lugar no saldo de gols. A campanha terminou com a demissão de Ancelotti e com a dúvida sobre quem comandará a equipe a partir de agora.
  Quem quase abocanhou o vice-campeonato foi o Manchester City do técnico Roberto Mancini, do zagueiro Vincent Kompany, do dinâmico meio-campista Yaya Touré e do excepcional atacante Carlos Tévez. O anilado teve um final de temporada excelente, conquistando o título da Copa da Inglaterra e a vaga automática para a Liga dos Campeões da Europa pela primeira vez.

  Já o Arsenal terá de disputar a fase de play-offs da maior competição de clubes europeia depois de vacilar nas últimas rodadas. Com Samir Nasri e o jovem Jack Wilshere em grande fase, o time de Arsène Wenger estava apenas um ponto atrás do líder Manchester United quando disputou a final da Copa da Liga contra o Birmingham no dia 27 de fevereiro. Mas, depois da surpreendente derrota em Wembley, ganhou apenas duas das 11 últimas partidas da Premier League.
  
   O Tottenham, dos brasileiros Gomes e Sandro e do galês Gareth Bale, escolhido o craque da temporada pela Associação Inglesa dos Jogadores Profissionais, ficou com o quinto lugar e a vaga para a Liga Europa, na qual terá a companhia do Birmingham, campeão da Copa da Liga, e do Stoke City, vice da FA Cup. O Liverpool ficou em sexto e não disputará as competições europeias pela primeira vez em 11 anos.

Sobe e desceNo outro lado da tabela, o West Ham foi a primeira equipe a ser rebaixada, mesmo tendo no elenco Scott Parker, escolhido o melhor jogador do campeonato pela Associação Inglesa de Cronistas Esportivos. Já Wolverhampton, Wigan e Blackburn escaparam após uma dramática última rodada em que Birmingham e Blackpool deram adeus à primeira divisão. Sobem Queens Park Rangers, Norwich e o vencedor de uma repescagem entre Reading e Swansea.

Resumo finalOs três primeiros1. Manchester United, 80 pontos
2. Chelsea, 71
3. Manchester City, 71
Os artilheiros
1. Carlos Tévez (Manchester City) e Dimitar Berbatov (Manchester United), 20 gols
2. Robin van Persie (Arsenal), 18
3. Darren Bent (Aston Villa), 17