Juve e Napoli duelam pela liderança em disputa que vai além do futebol

   Em país dividido, clube do sul busca dar fim à série positiva das equipes do norte, detentoras de todos os títulos nacionais desde a temporada 2001/02

   Milão foi a capital do futebol italiano na última rodada, com o clássico entre Milan e Inter. Não é errado dizer que as atenções na Velha Bota movem-se neste sábado para Turim. A cidade recebe o grande duelo do fim de semana: Juventus x Napoli, às 13h (de Brasília), que envolve a briga direta pela liderança e também coloca em jogo o orgulho de uma região inteira. Em meio a uma divisão histórica, o sul vê um domínio dos clubes do norte neste século e, após a temporada 2000/01, quando o Roma faturou o caneco, nenhum outro time que não fosse do trio Juve, Milan e Inter levou novamente o Calcio para casa.

Napoli, de Cavani é, no momento, a maior ameaça ao bicampeonato do Juventus (Foto: Afp)

   O desempenho superior da parte de cima do mapa da Velha Bota não é algo recente. Uma rápida olhada na lista de campeões italianos deixa a vantagem do norte à mostra. A Velha Senhora, com 28 títulos, é a maior vencedora, seguida pelos dois rivais de Milão, cada um com 18 taças. Mas, nesta edição, o Napoli surge como a grande esperança do sul para acabar com esse controle. A equipe liderada por Cavani vem dando razão ao prognóstico que a colocava entre as favoritas e, após sete rodadas, divide hoje a liderança com o Juve, com 19 pontos – quatro a mais que Lazio e Inter.
   Mas essa diferença vai além das quatro linhas e, talvez por isso, a importância de uma conquista do Napoli para levantar a auto-estima da população do sul. Em um país fragmentado, no qual o norte industrializado vê a parte debaixo do mapa como um fardo, o futebol virou apenas o reflexo das diferenças sociais e econômicas de dois reinos quase que distintos.

Campeã na temporada passada, Velha Senhora domina títulos ao lado de times do norte (Foto: Reuters)

 
Encontros e desencontros
   Na década de 80, essa diferença era até mais evidente. Foi quando um menino chamado Diego Maradona desembarcou em Nápoles em 1984 para acabar com esse complexo de inferioridade, levando sua equipe a uma época de glória que culminou com dois títulos nacionais, nas temporadas 1986/87 e 1989/90. O primeiro deles, inclusive, deixando o Juventus da lenda francesa Michel Platini numa amarga segunda colocação.

Napoli teve época áurea com o pibe (Getty Images)

   A rivalidade se esticou por mais meia década, época na qual o Napoli ainda beliscou outros títulos importantes, casos da Copa da Uefa (1988/89), Copa da Itália (1986/87) e Supercopa Italiana (1990) - além de dois vices no Calcio: 1987/88 e 1988/89. Depois deste período áureo sob a batuta de Maradona, o clube amargou uma queda, quebrou financeiramente, jogou divisões inferiores, mas voltou com força recentemente - e logo para bater de frente com a Velha Senhora.
    Ao fim da última temporada, no adeus do ídolo Del Piero, o Napoli colocou água no chope da Velha Senhora e conquistou sua quarta Copa da Itália ao vencer por 2 a 0 – gols de Cavani e Hamsik. As duas equipes se reencontraram no dia 11 de agosto na decisão da Supercopa, e o time de Turim deu o troco: triunfo na prorrogação por 4 a 2.
 
Buffon é dúvida
   Para o duelo deste sábado, é possível que o time alvinegro não conte com o goleiro Buffon, que desfalcou a seleção italiana na vitória sobre a Dinamarca pelas eliminatórias neste meio de semana por causa de uma lesão muscular e ainda não se mostrou inteiramente recuperado.
   Com passagens por Juventus e Napoli, o zagueiro Fabio Cannavaro, dono do prêmio de melhor jogador do mundo em 2006, revelou que, apesar de seu carinho pela Velha Senhora, vai torcer por Cavani e companhia, embora não tente se arriscar num favorito para o jogo deste sábado.
- Não faço previsões. Não me parece certo fazer isso. É uma questão de coração contra a cabeça. Tenho grande respeito pelo Juventus, que me deu tanto e onde ganhei dois campeonatos. Mas o coração domina esta profissão. Sou napolitano e o Napoli é o time no qual eu cresci - diz o campeão mundial com a Azurra em 2006, agora aposentado, que foi revelado nas divisões de base do clube.

Apesar da passagem por Turim, Canavarro diz que vai torcer pelo Napoli  (Foto: AFP)