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terça-feira, 22 de novembro de 2011

Bem na foto, Thiago Silva aponta a fórmula contra Messi: ‘Decidir e rezar’

   Zagueiro do Milan revela também ser chamado de Monstro na Itália, comenta sobre assédio do Barcelona, elogia Neymar e promete retorno ao Fluminense

Por Cahê Mota Especial para o GLOBOESPORTE.COM, em Milão

   Uma das capitais mundiais da moda, Milão é acostumada a ditar tendências. Nas ruas, vitrines das grifes mais luxuosas apontam o que as pessoas vão vestir na próxima estação, enquanto no San Siro nomes como Baresi e Maldini estiveram, ao longo de décadas, em voga na arte de defender no futebol. Nos dias atuais, um brasileiro une as duas paixões milaneses: Thiago Silva. Se em campo o Monstro, como também já é chamado na Itália, dá sequência a dinastia rossonera, como melhor zagueiro do último Calcio, fora dele a camisa 33 se tornou fashion e divide espaço com Bennetons, Armanis e Dolce & Gabbanas.
thiago silva entrevista especial milan (Foto: Cahê Mota/Globoesporte.com)
Thiago Silva segura quadro com foto da comemoração do gol sobre o Barça (Cahê Mota/Globoesporte.com)
 
    Nesta quarta-feira, às 17h45m (de Brasília), Thiago Silva tem desfile marcado em Milão. E com concorrência de peso pelos holofotes. Enquanto Milan e Barcelona se enfrentam pela quinta rodada da Liga dos Campeões da Europa, em partida que vale a liderança do Grupo H, o brasileiro tem pela frente um desafio de parar aquele que está acostumado a costurar defesas: Lionel Messi. Missão complicada, mas capaz de fazer com que ele passe a determinar estilos também mundo afora.
Minha última partida como profissional tem que ser com a camisa do Flu"
Thiago Silva

– Parar o Messi é muito difícil. É complicado enfrentar um jogador habilidoso e rápido. Geralmente, o cara tem uma ou outra qualidade. Não há um estudo certo. Todo jogo tem uma coisa diferente. Isso dificulta demais para o defensor. É mais coisa do momento. Tem que tomar a decisão na hora, e, quando ele vier para cima, fazer o sinal da cruz e rezar para que tudo dê certo.

    E fazer as coisas darem certo é algo que Thiago se acostumou a fazer na Itália. Após uma primeira passagem frustrada pela Europa, quando pouco entrou em campo Porto e Dínamo de Moscou, o zagueiro encontrou no Milan o seu lugar. Já a sua casa fica um pouco mais ao norte do país, na pequena e aconchegante Como.
    O sucesso imediato no Milan, o dia a dia na Itália, o assédio do Barcelona, a amizade com o recém-operado Cassano, a ausência na lista dos melhores da Fifa e a admiração pelo “fenômeno” Neymar entraram em pauta. Thiago Silva aproveitou ainda para reafirmar sua paixão pelo Fluminense e mandar um recado para o torcedor tricolor:

– Minha última partida como profissional tem que ser com a camisa do Flu. Na minha despedida, a torcida gritou “Thiago vai voltar”. Espero cumprir esse pedido.


thiago silva entrevista especial milan (Foto: Cahê Mota/Globoesporte.com)
Thiago Silva com os filhos Isago (3 anos) e Iago
(7 meses) (Foto: Cahê Mota/Globoesporte.com)
 
   Se o Maldini não foi um companheiro em campo, você diria que foi um professor neste período sem jogar?

    Com certeza. E foi sem saber. Eu o admirava, mas por não saber falar o italiano nunca falei isso com ele. Em todos os jogos e treinos observava o que ele fazia para tentar chegar o mais próximo possível, seguir o estilo. Aprendi muito em posicionamento, essas coisas, vendo o Maldini jogar nesses seis meses.

   Você tinha uma experiência não muito legal na Europa. Não foi tão bem no Porto, passou por problemas de saúde na Rússia. Isso serviu de aprendizado para que você se preparasse melhor e desse tão certo no Milan?

    Pensei muito nisso antes de voltar para Europa. Minha primeira passagem não foi muito feliz em função de várias coisas. A doença, o fato de ter ido muito jovem para o Porto... Mas depois de tudo isso me preparei bastante para essa nova oportunidade. Eu sabia que não podia falhar. Tinha que jogar o meu melhor futebol para continuar e não voltar mais para o Brasil. Eu tinha esse sonho de jogar em um grande europeu, e hoje, graças a Deus, sou realizado.

    Já são três anos na Itália, uma escolha de melhor zagueiro do campeonato, um título, muitos elogios... Você hoje olha para trás e tem a certeza da escolha certa?


    Vejo que tudo deu muito certo. O Milan estava há muito tempo sem vencer o campeonato. No meu primeiro ano, tivemos a oportunidade de alcançar a liderança, perdemos para o Napoli e não conseguimos. Mas no ano passado tudo foi diferente. Lideramos quase de ponta a ponta, e espero que este ano possamos ter o mesmo fim.

    Até onde pode chegar esse Milan atual? Você acha que é possível brigar com o Real Madrid, Manchester, Barcelona... Clubes que têm sido os protagonistas nos últimos anos?


   Certamente. Até mesmo pelas contratações que temos feito. O Milan tem renovado o grupo de jogadores e os reforços têm dado muito certo. Foi assim com o Noccerino, um cara que mudou nossa forma de jogar, assim com o Aquillani. Hoje sabemos lidar mais com as situações, a hora de atacar, de ficar com a bola. Nosso time cresceu muito desde a minha chegada e a tendência é só melhorar. Estão falando em alguns nomes para janeiro, como Paulinho, Ralf, Drogba... Esperamos ter boas surpresas.
Então, o Milan pode entrar naquela lista de times que podem acabar com essa dinastia do Barcelona?

    Eu acredito. Acredito muito. São escolas diferentes. O Barcelona enfrenta o Real Madrid muitas vezes por ano, ao contrário da gente. Então, eles não nos conhecem tanto, como nós também não os conhecemos muito. Particularmente, tenho acompanhado todos os jogos do Barcelona. É uma escola diferente de marcação, de ataque, sempre dá para tirar algo de proveito. Espero poder ter sucesso contra eles, que são melhores do mundo, na quarta-feira.

   Para conseguir desbancá-los, vencer quarta-feira e passar em primeiro pode ser um passo fundamental? Pegar um rival mais fraco e, além disso, fazer com que o Barça tenha uma pedreira nas oitavas pode fazer a diferença?

    Aqui não tem essa de estar classificado e jogar com reservas. Até pelo grupo ser muito bom. Dificilmente os 11 titulares são os mesmos, mas estamos muito motivados para pegar o Barcelona. Sabemos que é um time muito difícil de ser batido, mas estamos trabalhando para tentar segurar o máximo o time deles. No mata-mata, eles crescem. Se vencermos na quarta, teremos nossas oitavas muito facilitada. Até por jogar a segunda partida em casa, o que não aconteceu nos últimos dois anos, quando fomos eliminados. Dessa vez, eu quero passar, avançar e quem sabe chegar na final.
    Tem que tomar a decisão na hora, e quando ele vier para cima fazer o sinal da cruz e rezar para que tudo dê certo (risos)"
Sobre como parar Lionel Messi
 
   Você sendo zagueiro, imagino que os dias que antecedem um jogo contra o Messi sejam diferenciados. Você já sabe como parar o argentino?

    Parar é muito difícil. É complicado enfrentar um jogador habilidoso e rápido. Geralmente, o cara tem uma ou outra qualidade. Mas ele quando pega a bola consegue ter as duas coisas, como o Cristiano Ronaldo. Eles são muito difíceis de serem marcados. Não há um estudo certo. Todo jogo tem uma coisa diferente. Isso complica demais para o defensor. É mais coisa do momento. Tem que tomar a decisão na hora, e quando ele vier para cima fazer o sinal da cruz e rezar para que tudo dê certo (risos). É complicado, mas vamos estar preparados.

   Você falou do Messi, citou o Cristiano, queria que falasse sobre o Neymar. Você nunca o enfrentou, mas dá para dizer qual a diferença entre os três? O Neymar já está entre os melhores do mundo?

    Vou ser bem sincero: o Neymar não está muito longe dos dois, não. Eu treino com ele, vivo o dia a dia na Seleção, e posso dizer que é um menino diferenciado de todos. Apesar da pouca idade, já tem experiência, foi campeão da Libertadores. E agora, com o nascimento do filho, acredito que a cabeça tenha mudado um pouco. Eu o vejo muito próximo do Cristiano e do Messi. Já enfrentei os dois, e o Neymar só em rachão. Mas é tão difícil de marcar quanto. Mesmo no rachão é grande a dificuldade. Se o cara dá um bote, ele já sabe o que tem que fazer com dois toques. Imagine marcá-lo com toque livre? Falo para o Cristiano e o Messi ficarem atentos que o Neymar vai chegar forte até 2014.
thiago silva entrevista especial milan (Foto: Cahê Mota/Globoesporte.com)
Thiago ao lado da coleção de camisas guardadas com carinho em sua casa (Cahê Mota/Globoesporte.com)

E o pessoal no Milan costuma perguntar sobre ele?

    Com o treinador, não temos muita abertura. Ele nunca me perguntou do Neymar nem de nenhum outro jogador brasileiro. Mas dentro do vestiário os jogadores comentam. Até por ele ser da Seleção, fazer um grande trabalho no Santos. Ele hoje é mundial. Perguntam se ele é mesmo um fenômeno e não tenho outra palavra a dizer que não seja essa. Ele tem uma qualidade de drible enorme, uma técnica incomparável e é um finalizador. Tem todos os requisitos necessários. É completo.

    Por falar em Neymar, que é um cara cobiçado na Europa, o que você pode falar sobre o seu futuro? Fala-se muito em uma ida para o Barcelona. O que há de verdade nisso?

 
   Já tem um ano que falam isso. Mas de concreto é bom dizer que não tem nada"
Sobre uma transferência para o Barcelona
    Olha, isso é coisa que já vem de algum tempo. Já tem acho que um ano que falam isso. Mas de concreto, de concreto, é bom dizer que não tem nada. Ouço boatos. O mais importante é que estou feliz no Milan, contente por morar em Milão, fazer parte deste clube que é uma família, é diferenciado. Se vier a acontecer, deixo a critério do meu procurador e do Galliani. Hoje, estou com a cabeça somente em ajudar o Milan a conquistar a Champions League, que é um sonho.

   Mas ir para o Barça é algo que mexe com você? O que é mais tentador: recolocar o Milan como melhor do mundo ou entrar em um time quase imbatível e que já é o melhor do mundo?

    No momento, o mais tentador é transformar o meu time no melhor do mundo. Estou trabalhando para o Milan voltar a vencer. Graças a Deus conquistamos o Italiano no ano passado após um longo tempo (sete anos). Agora, é conquistar a Champions. É um sonho que eu tenho desde pequeno, uma meta que quero alcançar, e essa temporada temos tudo para chegar. Falando sobre o Barcelona, sempre vai ser algo tentador. É o melhor time do momento no futebol mundial. Mas o Milan não fica muito atrás. Estamos crescendo a cada ano.

   Você falou que gosta de morar em Milão, em Como, que é a cidade onde você mora. Como é seu dia a dia, sua vida italiana?

    Vamos (Thiago, a esposa e os filhos Isago, de três anos, e Iago, de sete meses) quase sempre para Milão. Tem o restaurante japonês do Seedorf que gostamos muito e vamos bastante. Meu dia a dia depende do horário do treino. Normalmente é 11h30m, 12h, por causa do frio. Temos a tarde livre. Almoço no CT, venho para casa dar uma cochilada e à noite, dependendo do dia, vamos a Milão jantar. Fico muito em casa também. Graças a Deus, escolhi uma casa que tem quase tudo. Não preciso sair para nada. E isso é graças ao Adriano, que transformou a casa desse jeito.

Essa era a casa dele?

É dele.
thiago silva entrevista especial milan (Foto: Cahê Mota/Globoesporte.com)
Thiago tem uma réplica do scudetto na prateleira de casa (Foto: Cahê Mota/Globoesporte.com)
 
   E como é sua relação com o Adriano? Você viu o gol dele?

    Nos conhecemos na Seleção. Não tínhamos tanta conversa, mas sempre que nos falávamos era com muito respeito. Depois do gol, mandei mensagem para ele parabenizando. Podem ter certeza que agora ele vai ser diferente, já com confiança. Ele respondeu agradecendo o apoio. É um cara que pode voltar à Seleção. Sabemos da força dele, da qualidade e da força daquela canhotinha. Podem ter certeza que em 2012 ele vai voltar com tudo.

   No elenco do Milan, quais jogadores são mais próximos de você?

    Os brasileiros, naturalmente. De estrangeiro, tem o Cassano, que é uma pessoa fantástica, correta, fala o que tem que falar na cara. Outro que me identifico muito é o Yepes, que é colombiano e muito gente boa. Além do Nesta, que joga do meu lado, o Gattuso, com quem converso muito, o Seedorf, que me ajudou muito na minha chegada, deu confiança, passou tranquilidade, disse para ficar atento ao posicionamento, o Ambrosini... A maioria, mas mais o Cassano, o Yepes e os brasileiros.

   Você já visitou o Cassano depois da cirurgia?

    Visitei um dia antes. Ele estava com muito medo de algo dar errado. Graças a Deus deu tudo certo. Ele foi ao clube nos rever na segunda-feira, já vai voltar a treinar. Espero que possa retornar o mais rápido possível. Já vivi isso de passar um tempo parado por problema de saúde não ligado ao futebol, sei o quanto é difícil, mas acredito que ele terá forças para voltar (Thiago teve tuberculose quando jogava na Rússia).

E você já fala o italiano tranquilamente?
Thiago Silva Antonio Cassano Milan (Foto: Getty Images)
Thiago Silva abraça Cassano na comemoração do
título italiano da última temporada (Getty Images)

   Eu me viro. Dou entrevistas. Faço as pessoas me entenderem (risos). Não falo corretamente, mas a maioria das coisas em relação ao futebol já falo.

   No Brasil, você ficou muito marcado pelo apelido de Monstro. Aqui você também já foi batizado?

    O Abbiatti também me chama de Monstro. Ele é o goleiro, assim como o Fernando Henrique, que me deu esse apelido no Fluminense. O Abbiatti vira e mexe me chama assim. Um outro apelido na TV do Milan é Rei, já nos jornais alguns chamam de muro. O que pegou mesmo foi o Monstro.

    Você é um jogador muito identificado com o Fluminense, sempre fez questão de falar isso, e veio brilhar justamente em um rubro-negro. Não acha estranho? Brincam muito com você sobre isso?


    Meus amigos tricolores até brincam, pedem camisa branca do Milan porque não querem vermelha e preta por ser parecido com o Flamengo, mas não tem nada a ver. É uma outra situação. Respeito Flamengo, Botafogo e Vasco. Não tenho medo nem vergonha de dizer isso. Um jogador não pode menosprezar outra equipe. Nunca se sabe o dia de amanhã. Perguntam se eu jogariam em um rival, mas não posso dizer, não sei do futuro. Tenho um carinho grande por todos os cariocas. É a minha cidade e quando estão bem dão alegria a todos. Aqui perguntam muito sobre os times do Rio e acabam conhecendo. Às vezes confundem o estado e é bom falar para acabar com essa dúvida.

   E tem acompanhado o Fluminense? Viu o jogo contra o Figueirense?

    Vi, vi. Jogamos no sábado (empate por 0 a 0 com a Fiorentina, fora de casa), minha esposa falou do jogo e me chamou para jantar domingo. Eu disse: “Melhor não, né. Vamos ficar em casa” (risos). Antes do jogo também mandei uma mensagem para o Fred, para o He-Man... São amigos que eu tenho. Sempre mando boa sorte. Graças a Deus, contra o Figueirense deu tudo certo. Vi em casa sozinho, é como eu gosto. Fico nervoso. Xingo muito, grito... A ansiedade é muito grande. É um clube que eu tenho um carinho. É inevitável. Foi o clube que me acolheu depois que fiquei doente, me abriu as portas, me fez voltar a ser um jogador profissional.
thiago silva fluminense visita (Foto: Nelson Perez/FluminenseF.C.)
Thiago Silva em visita ao Fluminense em junho: ele promete voltar (Foto: Nelson Perez/FluminenseF.C.)

   Você disse que não pode descartar nenhum clube na carreira, mas pode prometer uma volta ao Fluminense ainda como profissional?

    Com certeza. Até comentei há pouco tempo com meu empresário que minha vontade é voltar e, se possível, jogar seis meses. Se não for possível, o último jogo como profissional tem que ser com a camisa do Fluminense. Por esse carinho e respeito que todos ali têm por mim. Sempre que falo do clube lembro da minha despedida. Marcou muito a minha vida como jogador. A torcida gritou “O Thiago vai voltar” e aquilo ficou na minha cabeça.

   Foi um pedido que eles fizeram e você promete cumprir?


    É. Espero voltar para cumprir esse pedido.

    Para fechar, como você encarou a ausência na lista dos melhores do mundo da Fifa? Você já falou que sonha em repetir o Cannavaro e conquistar esse título, foi o melhor zagueiro do Italiano, mas acabou fora enquanto o Piqué foi incluído.


    Eu não esperava por não termos ido muito longe na Champions. Isso conta muito. É preciso ir para quartas, semifinal... Sabia que ia ser algo difícil de acontecer. Mas para o próximo do ano vou fazer de tudo para ser citado. É algo importante para mim. Um sonho que tenho. E vou em busca de todos os meus sonhos.

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