A comemoração parece meio tresloucada: o atacante corre pelo campo com as duas mãos erguidas e espalmadas à altura do queixo, chacoalhando um pouco a cabeça, com a língua de fora. Foi o jeito que o atacante Alecsandro encontrou para homenagear o pai Lela, ex-jogador que se destacou nos anos 80 celebrando assim os seus gols. Mas a careta também reflete a opinião de muitos – que têm se provado cada vez mais errados - sobre sua decisão de se transferir para o Vasco da Gama neste ano, deixando o Internacional.
“Quando souberam que estava vindo para o Vasco, alguns me chamaram de maluco, que eu estava indo para um clube que há muito tempo não ganha um título. Falavam que eu estava estabilizado num clube como o Inter, disputando tudo”, afirmou o atacante ao FIFA.com. “Mas, por que não?”
Por coincidência, o meia-atacante Diego Souza afirmou ter sido outro a encarar exatamente essa mesma desconfiança quando acertou com o clube de São Januário. Em poucos meses, porém, o time vai mostrando sinais de que o que faziam não tinha nada de loucura. Após a vitória por 1 a 0 sobre o Coritiba, em casa, pela final da Copa do Brasil, o time está apenas a um empate do título, no Couto Pereira.
Reagrupamento
A linha de frente da equipe vascaína reúne alguns jogadores descartados por suas ex-equipes. Diego Souza não viveu um grande ano pelo Atlético Mineiro. Éder Luís foi pouco aproveitado pelo Benfica, depois de passagem apagada pelo São Paulo. O garoto Bernardo foi emprestado pelo Cruzeiro pelo segundo ano seguido. O próprio Alecsandro vinha perdendo espaço no Inter. Sob o comando do técnico Ricardo Gomes, no fim, essas peças se encaixaram, rendendo dividendos imediatos.
“É o mesmo caso do Leandro, do Eduardo Costa... São todos jogadores que têm conquistas, que deixaram rastro de vencedores em outros times. Por mais que não tenham dado certo no time anterior, são jogadores que chegaram com o pensamento de ser campeões, com uma proposta de fazer o Vasco voltar ao cenário. Essa somatória de querer é o que está nos levando adiante”, concorda Alecsandro.
No caso dele, pesou também o empenho da direção do Vasco em sua contratação. “Eles foram três vezes a Porto Alegre para fechar a negociação. Tive propostas de outras equipes, mas o que me trouxe para o Vasco foi essa vontade deles. Sempre diziam: ‘Precisamos de você. Você encaixaria certinho aqui’. Por isso tenho de retribuir ao máximo esse esforço que fizeram”, conta.
Encaixou mesmo: em 12 jogos, ele já marcou seis gols – incluindo o da vitória na primeira partida decisiva –, seguindo sua rota de artilheiro que já incluiu Vitória, Cruzeiro, Sporting e o time colorado. “Vem sendo legal. Com pouco tempo de clube acontecer isso, tudo rápido, de todo mundo já saber que eu sou o Alecsandro do Vasco. Já parece que eu tenho mais de um ano de clube.”
O gol é um detalhe?
O curioso é que o atacante gosta de ressalvar que não entra em campo com a cabeça obcecada em fazer gols. Mas eles simplesmente não param de sair e abriram a chance de prestar sua reverência a Lela, emulando sua característica comemoração amalucada. Contra o Coritiba, ela ganha uma conotação especial, já que o pai marcou história pelo time paranaense, pelo qual foi campeão brasileiro em 1986. “Foi com ele que tudo começou, respirando o futebol desde sempre. Eu e meu irmão (Richarlyson, volante do Atlético Mineiro) vivemos o cotidiano dele de treinos, jogos, desde quando estávamos na barriga da minha mãe. E uma coisa que ele sempre falava era que, se resolvêssemos jogar futebol, era para fazer carreira e não só como lazer.”
A final da Copa do Brasil de seu antigo clube com o do de seu filho, neste ano, foi antecipada pelo ex-atacante. “Pelo desenrolar da competição, meu pai já havia comentado comigo que ia dar Coritiba na final, que eles vinham jogando muito bem. Disse: ‘Vê se ganha do Avaí, porque a final vai ser contra eles’. Lógico que para ele era muito legal, ter esse ambiente na final”, conta.
Alecsandro recebeu os parabéns do pai pelo gol e a primeira vitória na quarta passada. Antes, em campo, ele foi interceptado pelos repórteres e insistiu que “troca todos os gols pelo título”. “Não adianta fazer dois, três gols e não levar a taça”, explica. Ao FIFA.com, todavia, ele fez uma concessão: “Se fizer gols que levem ao título, então fico muito feliz que as coisas possam se casar”. Para depois completar com uma frase de muita convicção, que não é confundida com loucura nenhuma: “Fui campeão em todos os times por que passei e tenho fé de que será assim também pelo Vasco”.