Embora não ostente o status de dérbi na Itália, o duelo entre Roma e Milan alimenta uma das mais antigas rivalidades do futebol no país. A impressionante marca de 150 confrontos ao longo da história é prova disso. Recheada de gols, títulos e craques, ela tem ingredientes de sobra que devem novamente estar presentes neste final de semana, quando a equipe da capital recebe o gigante do norte numa partida que pode definir o campeão da Série A.
As origens
Quando a disputa é pelo número de títulos, a diferença entre os dois clubes é evidente. O Milan detém 17 troféus do Campeonato Italiano e cinco da Copa da Itália, contra três e um recorde de nove copas da Roma. A diferença é ainda mais significativa na comparação das conquistas internacionais: os rossoneri são donos de uma Copa do Mundo de Clubes da FIFA, três Copas Intercontinentais, sete Ligas dos Campeões, cinco Supercopas da UEFA e duas Recopas Europeias, enquanto a Roma tem de se contentar apenas com uma Taça das Cidades com Feiras (precursora da Copa da UEFA e da atual Liga Europa), vencida em 1961, e dois vice-campeonatos, um da Liga dos Campeões e outro da Copa da UEFA.
É evidente que o entusiasmo envolvido neste confronto não se compara com a atmosfera passional dos clássicos de Milão e de Roma, mas a temperatura também ferve quando entra em campo a rivalidade existente entre as cidades que os dois clubes representam: a capital financeira e a capital administrativa da Itália.
Os númerosEm 150 confrontos, a superioridade do Milan se traduz em 69 vitórias, 37 derrotas e 44 empates. A equipe da Lombardia leva vantagem até mesmo nas 75 partidas disputadas no Estádio Olímpico, em Roma, onde ganhou 26 vezes, perdeu 22 e empatou 27. Mas se os milaneses podem ainda se orgulhar da maior goleada do confronto (6 a 2 em 28 de maio de 1950), os giallorossi têm a seu favor a reação mais espetacular, o empate em 4 a 4 de 27 de janeiro de 1935, em um jogo que o adversário vencia por 4 a 1 até o início do segundo tempo.
Ao longo da história, a Roma forneceu 11 jogadores para os títulos mundiais da Azzurra, de Attilio Ferraris IV (1934) a Francesco Totti (2006), passando por Bruno Conti (1982). Já o Milan contribuiu com oito campeões, de Pietro Arcari (1934) ao quinteto de 2006 (Gennaro Gattuso, Alberto Gilardino, Filippo Inzaghi, Alessandro Nesta e Andrea Pirlo), sem esquecer o fabuloso Franco Baresi (1982).
Dois clubes históricosVários ídolos do futebol italiano vestiram as camisas destes dois gigantes do calcio. Em primeiro lugar, é claro, destaca-se o emblemático e elegante capitão Paolo Maldini, que, de 1984 a 2009, disputou 902 partidas pelo Milan (33 gols) e 126 pela seleção (17 gols). Assim como ele, Gianni Rivera, Franco Baresi, Frank Rijkaard, Ruud Gullit, Marco Van Basten, George Weah, Andriy Shevchenko, Kaká e, ainda hoje, Gattuso, Nesta e Clarence Seedorf fazem parte da galeria de craques que ajudaram a escrever as mais belas páginas da história do clube.
Dentre os grandes da Roma, Agostino Di Bartolomei, Falcão, Pietro Vierchowod, Roberto Pruzzo, Bruno Conti, Gabriel Batistuta, Vincenzo Montella — atual treinador do time — e Marco Delvecchio têm lugar cativo, mas o melhor jogador de todos os tempos é indiscutivelmente um filho genuíno da cidade: Francesco Totti.
A exemplo de Maldini, ele faz parte de uma espécie de jogador em extinção, que dedica toda a carreira ao clube do coração. Em 607 partidas disputadas desde 1993, o temperamental meia assumiu o papel de comandante, tornando-se o maior artilheiro do clube na Série A, com 206 gols, e o quinto do Campeonato Italiano em todos os tempos. E ele pretende mostrar contra o Milan que ainda não escreveu o último capítulo desta história.
Na direção dos clubes, dois sobrenomes, Berlusconi e Sensi, têm sido sinônimo de poder há muitos anos. O primeiro preside o Milan desde 20 de fevereiro de 1986, quando decidiu comprar a equipe, arrebatado por uma paixão de infância herdada do pai, Luigi, que o levava frequentemente ao Estádio San Siro. Após o esplendor da década de 1950, marcada pelo trio de atacantes suecos Gre-No-Li (1949-61), e da inesquecível era Nereo Rocco (1961-79), Silvio Berlusconi levou o Milan a mais dois períodos gloriosos, graças a uma série de craques comandados por Fabio Capello (1991-96) e Carlo Ancelotti (2001-09).
Já a Roma do mítico presidente Franco Sensi (1993-2008), e depois de sua filha Rosella (2008-11), conseguiu permanecer no topo mesmo sem os recursos necessários. No último dia 15 de abril, o empresário ítalo-americano Thomas di Benedetto se tornou o 21° presidente do clube e anunciou: "A Roma é uma princesa, que nós transformaremos em rainha."
A rivalidade hojePara reviver os anos de glória do Milan, Silvio Berlusconi optou por um técnico pouco badalado, com nome de imperador: Massimiliano Allegri, de 43 anos, que tem tido sucesso na difícil tarefa de comandar um elenco de astros. Enquanto isso, na Roma, Vincenzo Montella, de 36 anos, pode se sentir em casa. Campeão italiano pelo clube em 2001, como jogador, o artilheiro de 314 gols na carreira, adepto do futebol ofensivo, foi nomeado treinador no último dia 21 de fevereiro.
No próximo domingo, o clássico tem tudo para fazer a Cidade Eterna ferver. Os comandados de Allegri vão a Roma em busca do único pontinho necessário à conquista do 18º Scudetto do Milan. Mas os donos da casa, que ainda sonham com uma vaga na Liga dos Campeões da UEFA, certamente estarão dispostos a adiar a festa adversária.